São Paulo, quinta-feira, 16 de outubro de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Outros orientais interessam menos

CÁSSIO STARLING CARLOS
DA REDAÇÃO

As produções de outros países orientais que serão exibidas nesta mostra oferecem mais interesse antropológico do que estritamente cinematográfico.
"A Trança Feiticeira", por exemplo, produzido em Macau é o primeiro -e, talvez último- filme produzido na colônia portuguesa que será devolvida à China dentro de dois anos.
O filme é uma ficção histórica que tenta mostrar as relações colonizador-colonizado tendo como pano de fundo os ataques do expansionismo japonês no Oriente durante os anos 30.
Um jovem português se apaixona por uma garota chinesa e, juntos, enfrentam os preconceitos -família, raça e tradição. O resultado é constrangedor.
A pretensa narrativa fragmentada traz influências do maneirismo inteligente do diretor de Hong Kong Wong Kar-wai -o grande ausente desta edição da mostra com seu sublime "Happy Together".
Uma sucessão de crimes envolvendo uma prostituta de luxo, amante de um gângster, servem de motivo para o diretor exibir seu virtuosismo.
Os -poucos- bons momentos ficam para um assassinato filmado no reflexo da imagem numa torradeira e para a dança do jovem gângster Noi no interior de um 7 Eleven. O estilo Tarantino volta às suas origens e estende sua má influência.
Seu "O Ritual do Adeus" é uma comédia autobiográfica que lembra um pouco as sátiras italianas sobre famílias barulhentas, emocionais e cheias de vícios. O filme é dividido em cinco partes, equivalentes aos cinco dias que duram uma cerimônia tradicional de enterro no país.
Com a notícia da morte do pai, o cineasta abandona o trabalho no estúdio e chega com sua equipe para transformar a cerimônia do adeus em ficção.
A indeterminação entre fato e encenação geram os melhores momentos, com cenas de humor ácido que ironizam a choradeira transformada em dramalhão.
Ao saltar do antropológico para o dramático, "O Ritual do Adeus" exibe o ridículo essencial aos humanos.
(CSC)

Texto Anterior: Diretores chineses garantem o escândalo
Próximo Texto: Documentários correm o mundo e seus ideais
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.