São Paulo, quinta-feira, 16 de outubro de 1997
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Faulks mostra subterrâneos da 1ª Guerra

JOSÉ GERALDO COUTO
ENVIADO ESPECIAL A FRANKFURT

A Primeira Guerra Mundial vista do subsolo: este pode ser o resumo do romance "Birdsong", cuja edição alemã o britânico Sebastian Faulks, 44, está lançando na Feira do Livro de Frankfurt.
No café próximo ao estande da editora Schõffling, Faulks falou à Folha sobre o livro, que a editora Record lançará em breve no Brasil.
Segundo o autor, o romance, de 400 páginas, tomou-lhe quatro anos de pesquisa e seis meses de escrita.
"Pesquisei basicamente em três frentes. Entrevistei velhos sobreviventes da guerra, li dezenas de livros de história, memórias e romances e, por último, tive acesso a dezenas de milhares de cartas e escritos pessoais de combatentes, recolhidos no Imperial War Museum, em Londres."
A intenção de Faulks era aproximar-se o máximo possível da "vida como ela era" nos túneis que britânicos e alemães construíram na terra-de-ninguém entre as trincheiras na região do Somme, na França.
Antes de entrar na descrição da guerra, o livro conta em cem páginas o romance clandestino entre um jovem inglês, Stephen Wraysford, e uma francesa casada, na cidade de Amiens, em 1910. Cinco anos depois, o mesmo Wraysford volta à região, agora como oficial de infantaria.
"Tenho um interesse especial por lugares que tiveram sua imagem muito marcada pela história. Somme, para os ingleses, é uma palavra maldita, que traz lembranças terríveis, mas, antes da Primeira Guerra, era apenas um rio aprazível, onde as pessoas pescavam ou faziam piqueniques, assim como Auschwitz já foi uma pacata aldeia de camponeses", diz Faulks.
Segundo o escritor, sua principal inspiração literária para o livro não foram os romances sobre a guerra, e sim os poemas, sobretudo os de Wilfred Owen.
"Os mais famosos romances sobre a Primeira Guerra em língua inglesa -como 'Adeus às Armas', de Hemingway- foram publicados uma década depois dos combates. São na verdade memórias disfarçadas. Por sua vez, as diversas memórias escritas por oficiais são em geral evocações muito distantes do sangue e da lama das trincheiras."
Para Faulks, os melhores livros de ficção sobre a guerra são o francês "Feu", de Henri Barbusse, e o alemão "Krieg", de Ludwig Renn.
"Birdsong" foi muito elogiado na Europa também pela precisão com que descreve a vida cotidiana no interior da França, tema que já aparecia no livro anterior de Faulks, "The Girl at the Lion d'Or" (1989), e que volta no novíssimo "Charlotte Gray", romance que ele publicará em 1998.
"Juntos, os três livros formam minha 'trilogia francesa"', diz Faulks, que viveu seis meses em Paris na juventude e um ano em Toulouse, com a mulher e os três filhos.
Antes de se tornar romancista, Sebastian Faulks estudou literatura inglesa em Cambridge ("três anos de total perda de tempo"), deu aulas em colégios e trabalhou como jornalista, sobretudo nos jornais britânicos "The Guardian" e "The Independent".
"Minha experiência como jornalista me ensinou que, para saber alguma coisa, basta perguntar à pessoa certa, e isso me ajuda quando faço meus livros."
Além de sua "trilogia francesa", Faulks publicou "A Fool's Alphabet" (92) e "The Fatal Englishman" (95). "Birdsong", lançado no Reino Unido em 93, foi indicado para o Booker Prize, o maior prêmio literário do país.

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