São Paulo, sexta-feira, 17 de outubro de 1997
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Governador acerta apoio e obtém R$ 66 mi

LUCIO VAZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O governador de Rondônia, Valdir Raupp (PMDB), disse ao deputado Emerson Olavo Pires (PSDB-RO) que acertou a liberação de R$ 66 milhões em verbas federais para seu Estado com o presidente Fernando Henrique Cardoso e o ministro Sérgio Motta (Comunicações).
O dinheiro, a ser liberado pelo BNDES, segundo Raupp, servirá para que ele consiga concluir um programa de obras e melhore suas chances de reeleição em 98. "Se eu tocar esse programa de obras, consigo ganhar a eleição no primeiro turno", afirmou o governador, em conversa gravada pelo deputado.
O BNDES e a Eletronorte estão fazendo um aporte de capital de R$ 66 milhões e assumindo o controle da Ceron (Centrais Elétricas de Rondônia). Os recursos servirão para pagar parte das dívidas e sanear a empresa. No próximo ano, ela será privatizada.
O auxílio do BNDES a empresas estatais já ocorreu em 14 Estados. Em Rondônia, como a situação da empresa é crítica, foi criado esse mecanismo de aporte de capital.
Raupp afirma na gravação que vai apoiar FHC na eleição do ano que vem: "Eu já dei a palavra que apóio o presidente (FHC). Só se eles (PMDB) me expulsarem".
Na gravação, obtida pela Folha, o governador de Rondônia não diz explicitamente que a liberação de verbas federais para seu Estado está vinculada a algum tipo de apoio a FHC no ano que vem.
O acordo para a liberação dos recursos, entretanto, foi fechado no mesmo período em que o governador foi ao presidente e entregou-lhe um documento assegurando apoio à sua reeleição -há dois meses.
"O próprio presidente"
Na gravação, o deputado lembra que a verba do BNDES já foi prometida e retida várias vezes. E pergunta: "Do governo federal mesmo, quem está ajudando nisso?"
"O próprio presidente (FHC), o próprio presidente determinou. Eu estive com ele na semana passada, pessoalmente. Ele já determinou que se fizesse isso o mais rápido possível. Tanto o presidente quanto o Sérgio Motta", responde o governador.
Motta não tem ligações formais com o BNDES e não deveria interferir na liberação dos recursos para Rondônia.
Raupp justificou à Folha anteontem por que procurou o ministro: "Porque nós somos aliados lá em Rondônia. Como governador, eu tenho que me dirigir a qualquer ministro, ao presidente, para pedir socorro, pedir ajuda".
O deputado pergunta, na gravação, se FHC está "fechado" com o governador. "O presidente está. Está 100% fechado", responde Raupp. Olavo comenta sobre o documento que o governador entregou a FHC, prometendo apoio incondicional à sua reeleição.
Depois, o deputado indaga Raupp sobre como ficaria a situação se o PMDB lançasse candidato a presidente da República. O governador responde que continuaria com FHC.
Em seguida, Raupp menciona que poderia até ser expulso do partido por esse apoio ao Planalto. E completa que o tratamento teria de ser equânime com outros peemedebistas a favor do governo: "Mas vão ter que expulsar o (Antonio) Britto (governador do Rio Grande do Sul, do PMDB, e também um aliado de FHC)".
Raupp diz que apoiará FHC no ano que vem por um motivo simples: "Não há um nome que eu simpatize no PMDB."
Ceron
Numa segunda conversa, Raupp explica ao deputado como poderá usar o dinheiro do BNDES em obras. Olavo pergunta se o dinheiro não seria "carimbado" para a Ceron (Companhia de Energia Elétrica).
"Não. Ele vem para a Ceron pagar o ICMS do Estado. A Ceron deve R$ 78 milhões de ICMS", diz o governador. Ele afirma que o BNDES vai liberar R$ 66 milhões. "Enquanto preparam toda a papelada, iam mandar R$ 10 milhões, para dar continuidade às obras. Depois, vêm os outros R$ 56 milhões."
O governador diz na gravação que também conta com o dinheiro da privatização do porto e do Beron (Banco do Estado). "Vou apurar uns R$ 90 milhões ou R$ 100 milhões. Toco o programa todo em seis ou sete meses. Daqui a 60 dias, com esse programa de obras andando, devo chegar a uns 40 pontos no Ibope."
Gravações
A Folha recebeu há cerca de dois meses a informação de que Raupp estaria prometendo apoio à reeleição de FHC em troca de recursos para o Estado. Também estaria cobrando da Executiva Nacional do PSDB a retirada da candidatura de José Guedes (PSDB) ao governo de Rondônia.
O deputado Emerson Olavo Pires se dispôs a fazer a gravação. Gravou a primeira conversa com o governador no dia 2 de outubro. Ligou do seu apartamento para o gabinete do governador, em Porto Velho (RO). A segunda gravação foi feita alguns dias depois, no gabinete do deputado.
O deputado pretendia realizar uma terceira gravação. Mas chegou ao governador a informação de que alguém teria gravado uma conversa com ele. Segundo afirma Olavo, Raupp telefonou ameaçando retaliar se ele divulgasse o conteúdo da gravação.
Telefonema
Ontem, no Congresso, o deputado Olavo Pires disse que foi informado por amigos de que o governador estaria divulgando que havia telefonado para a Folha e conseguido barrar a publicação da reportagem.
O governador realmente telefonou para a chefia da sucursal do jornal em Brasília. Perguntou se a reportagem seria publicada. Em resposta lhe foi dito que a reportagem, obviamente, seria publicada na edição de hoje.

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