São Paulo, sexta-feira, 17 de outubro de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Plano de paz une guerrilha e empresários

CLÓVIS ROSSI
DO CONSELHO EDITORIAL

Juan Manuel Santos, pré-candidato do Partido Liberal à Presidência da Colômbia, volta hoje ao país (estava na Espanha) para apresentar à Comissão de Conciliação Nacional uma proposta de paz com a guerrilha que desencadeou formidável tempestade política.
Tempestade fácil de se entender quando se conhecem os personagens, absolutamente contrapostos, que já manifestaram apoio à proposta de Santos.
Começa pelo próprio Santos. Ele é do mesmo Partido Liberal do atual presidente, Ernesto Samper, cuja oposição à proposta é total. "Trata-se de uma proposta de guerra contra o governo", reagiu. Disse mais: "Trata-se de aliança entre a direita e a guerrilha".
Tem razão: a proposta de Santos foi apoiada pelas Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), inclusive, ao que tudo indica, por Manuel Marulanda Vélez, o "Tirofijo", o mais antigo guerrilheiro em atividade nas Américas.
Foi apoiada também pelo grupo paramilitar de extrema direita AUC (Autodefesas Unidas da Colômbia).
Mais insólito ainda é o apoio da Andi (Associação Nacional de Industriais), a mais importante central empresarial do país. A Andi faz uma única reserva: pede que Juan Manuel Santos desista da candidatura para poder se dedicar unicamente às negociações de paz.
"Não se pode fazer da paz uma arma eleitoral", diz Luis Carlos Villegas, presidente da Andi.
A proposta tem ainda o respaldo da igreja, depois de ter sido concebida pelo escritor e Prêmio Nobel Gabriel García Márquez, de conhecida inclinação esquerdista.
O plano de paz tem cinco pontos:
1 - Convocação de uma Assembléia Constituinte, para rever a organização e estrutura do Estado.
2 - Referendo popular sobre a lei que convocaria a Constituinte.
3 - Tal lei seria discutida entre as partes envolvidas no conflito (o que legitimaria a guerrilha).
4 - Durante a discussão, o governo retiraria suas tropas de zona do país a ser objeto de acordo prévio.
5 - A partir da retirada, começaria um cessar-fogo.
García Márquez, autor original da idéia, partiu do pressuposto de que é preciso que as duas partes (o Estado e a guerrilha) discutam como "repartir a derrota, porque, na guerra em andamento, todos estamos perdendo".
Por que Samper vê na proposta uma conspiração contra ele? Porque as Farc (e também o ELN, o Exército de Libertação Nacional, o outro grupo guerrilheiro) se recusam a dialogar com o seu governo.
A desconfiança do presidente só fez crescer com a divulgação de uma conversa, gravada pelos serviços de inteligência, entre Santos e Raúl Reyes, dirigente das Farc.
Santos pergunta:"Vocês (as Farc) insistem em que o governo deve ficar fora da iniciativa?". Reyes responde que sim.
Samper deu o troco: "Ficarei no governo até o último minuto da última hora do último dia do último ano" (ele deixa o cargo em agosto de 1998).
No diálogo gravado, o líder das Farc ainda pede que Santos consiga "um grupo de amigos internacionais para melhorar a proposta". Foi o que o pré-candidato fez, ao reunir-se em Madri, na terça, com o ex-premiê Felipe González, tendo ao lado García Márquez.
Na versão de Juan Manuel Santos, González "mostrou vivo interesse não só por tratar-se de uma fórmula constitucional para conseguir a paz, mas também pelo amplo apoio que gerou nos diferentes setores da sociedade".

Texto Anterior: Manifestação anti-ETA reúne 300 mil
Próximo Texto: Divulgadas novas fitas com Clinton
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.