São Paulo, sexta-feira, 17 de outubro de 1997
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Mostra traz 150 filmes de 45 países

NAIEF HADDAD

É tempo de deliciosos sacrifícios: assistir ao primeiro filme de Kieslowski ou ao último de Kiarostami em cinemas superlotados, sair correndo de uma sala para outra, enfrentar sessões à meia-noite.
A partir de hoje e até o dia 31, a diversidade do cinema se revela na 21 Mostra Internacional de Cinema. São 150 filmes entre longas e curtas de 45 países que serão exibidos em um circuito formado por Masp, Cinesesc, Cinearte 1, Centro Cultural São Paulo, MIS, Maksoud Plaza e Faap
"O que aconteceu no mundo este ano tem a cara da mostra", afirma Leon Cakoff, coordenador do evento desde a seu surgimento há 20 anos. Prova é que os paulistanos recebem o Leão de Ouro em Veneza "Hana-Bi, Fogos de Artifício", de Takeshi Kitano, as duas Palmas de Ouro em Cannes, "Gosto de Cereja", de Abbas Kiarostami, e "A Enguia", de Shoshei Imamura, o Urso de Prata de Berlim "O Rio", de Tsai Ming-Liang etc
Mas é injusto reduzir a mostra a um festival de condecorados. Há resgates preciosos como "A Cicatriz", o primeiro filme de Krystof Kieslowski, novos filmes de diretores fundamentais como Manoel de Oliveira ("Viagem ao Princípio do Mundo", último papel de Marcello Mastroianni), Robert Altman ("Jazz'34"), Zhang Yimou ("Keep Cool") e revelações -talvez a mais oportuna face da mostra- como "Histórias de Amor", de Jerzy Stuhr, o ator de "A Igualdade é Branca", de Kieslowski.
Entre as atrações especiais uma retrospectiva do chinês Shohei Imamura ("A Balada de Narayama"), a série canadense "Yo Yo Ma", inspirada nas suítes de Bach e o documentário "A Voz de Bergman" sobre o cineasta sueco.
Cakoff comenta alguns dos destaques da mostra:
A Cicatriz, de Krysztof Kieslowski: "Foi proibido no tempo da Polônia comunista. É a estréia do diretor e já se trata de puro Kieslowski." O filme põe em confronto o progresso econômico e a realidade cotidiana.
A Enguia, de Shohei Imamura: "Foi uma surpresa para o próprio Imamura ter sido premiado em Cannes. É um filme acadêmico, uma lição de cinema."
A Voz de Bergman, de Gunnar Bergdahl: "Genial. Você fica de joelhos ao ouvir o Bergman falar de cinema". O filme apresenta o diretor sueco em uma de suas raras entrevistas.
Gosto de Cereja, de Abbas Kiarostami: "No início você pensa que é um filme gay, um cara procurando um parceiro. Na verdade, ele está atrás de alguém que possa enterrá-lo já que ele quer se matar. É um travelling em que usa o tema do suicídio em favor da vida. Kiarostami é brilhante."
Hana-Bi, de Takeshi Kitano: "Takeshi Kitano é um novo mestre. Quem viu "Pulp Fiction" pode esperar mais. Você fica hipnotizado. Como ator, Kitano é cínico e o cinismo é condição sine qua non na linguagem do cinema."
Jazz'34, de Robert Altman: "É um jam sessiom. Altman resolveu filmar com três câmeras as gravações das músicas em estúdio de "Kansas City" (seu filme anterior). Um toque de Midas."
Keep Cool, de Zhang Yimou: "É uma comédia sobre a capitalização da China, sobre as pessoas afirmarem que estão estressadas o tempo todo, sem tempo para nada. O filme mostra que isso já virou um tique nervoso".
O Destino, de Youssef Chahine: "Um filme corajoso no combate ao fundamentalismo." A produção egípcia conquistou o Prêmio Especial em Cannes.
O Rio, de Tsai Ming-Liang: "Sobre o amor e a solidão. Você passa um bom tempo sem saber quem é quem, que aqueles pessoas formam uma família. É regido pelo circuito das águas em metalinguagem."
Viagem do Princípio do Mundo, de Manoel de Oliveira: "Manoel de Oliveira dribla as idades. Brinca com sua própria velhice e com a doença terminal do Mastroianni".

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