São Paulo, sábado, 18 de outubro de 1997
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DreamWorks abre fogo com Clooney

ADRIANE GRAU
ENVIADA ESPECIAL A LOS ANGELES

Por causa do impacto que causou na indústria cinematográfica, quando foi criado no outono de 1993, o novo estúdio DreamWorks-SKG -empreitada de US$ 2,7 bilhões de Steven Spielberg, Jeffrey Katzenberg e David Geffen- poderia usar uma tempestade como vinheta.
Mas o que aparece na tela do cinema, antes dos créditos iniciais de "O Pacificador", primeiro filme do estúdio, é um menino sonhador, sentado numa meia-lua e cercado por nuvens, tentando agarrar um sonho com sua vara de pescar, no plácido lago que, a seus pés, se transforma numa imensidão azul.
Por trás da ousadia de Spielberg, Katzenberg e Geffen de arriscar um novo estúdio em época de crise (como a enfrentada pela tradicional MGM), estava uma proposta tácita de mudança de atitude na indústria cinematográfica.
Os três veteranos, que têm sucessos como "E.T. - O Extraterrestre", "O Rei Leão" e "Entrevista com o Vampiro" em seus currículos, queriam poder dar as cartas na indústria dominada por executivos cuja matemática só lida com lucro e em cuja gramática criatividade não rima com liberdade.
Oscars e popularidade
Mas a estréia com "O Pacificador" foi decepcionante. Apesar de ser um bom filme de ação, o público e a crítica esperavam mais.
Afinal, Spielberg criou o simpático E.T., o vigoroso Indiana Jones e tornou Schindler conhecido.
Fica difícil entender o que convenceu o diretor a investir na história do coronel bonitão, interpretado por George Clooney, que tenta salvar a Terra de um desastre nuclear, ao lado da precoce estrategista Nicole Kidman.
Lançado há 17 dias nos EUA, "O Pacificador" faturou apenas US$ 31,5 milhões para o DreamWorks. A soma não impressiona, quando comparada aos US$ 229 milhões de bilheteria que "O Mundo Perdido - Jurassic Park", dirigido por Spielberg, garantiu à Universal há apenas quatro meses.
Outro sucesso de bilheteria, "Homens de Preto", que Spielberg co-produziu, engordou a conta da rival Tri-Star em US$ 243 milhões no mês passado.
Antes mesmo de estrear com "O Pacificador" no cinema, a diretora Mimi Leder já estava preparando um segundo filme para a DreamWorks. "Deep Impact" tem Robert Duvall e Vanessa Redgrave no elenco e explora o caos reinante na Terra, às vésperas do planeta ser atingido por um cometa fatal.
Outro projeto do estúdio, a grande aposta do DreamWorks para tentar ganhar vários Oscar e popularidade ao mesmo tempo, é "Amistad", que estréia em dezembro nos EUA. Trata-se de um épico dirigido pelo próprio Spielberg, que mostra um outro ângulo da escravidão no país.
Dividindo tarefas e mantendo outras empresas separadas da produtora, Spielberg, Katzenberg e Geffen optaram por instalar seu quartel-general dentro dos estúdios da Universal, em Los Angeles.
Para evitar brigas e choques de egos, nenhum deles tem título ou cargo no estúdio. Ninguém manda em ninguém, mas teoricamente cada um comanda uma área.
A divisão de televisão é, por enquanto, a mais bem-sucedida, sob comando de Katzenberg.
Acaba de lançar as séries "Veronica's Closet", com a estrela em ascensão Kirstie Alley no papel principal. Aproveitou também o talento de Michael J. Fox, em "Spin City". Ambas foram lançadas no começo do mês e apresentam bons índices de audiência.
Sobrou para Geffen o desafio de tocar a gravadora. Por enquanto, o álbum do comediante Chris Rock, "Roll with the New", é o único que deu lucro. Contratando estrelas decadentes como George Michael e Randy Travis, vai ser difícil fazer o sonho funcionar.

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