São Paulo, sábado, 18 de outubro de 1997
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'Ouro negro' alimentou teorias conspiratórias

NEWTON CARLOS
DE EQUIPE DE ARTICULISTAS

O petróleo jorrou pela primeira vez em 1859, em Titusville, Estados Unidos, por meio de perfuração primitiva que daria em processos revolucionários de industrialização do óleo bruto, chamado de ouro negro. Uma história de 138 anos, portanto, pontilhada de tragédias e cercada de teorias conspiratórias envolvendo as "sete irmãs" -as gigantes Exxon, Standard Oil, Mobil Oil, Texaco, Gulf, Royal Dutch Shell e British Petroleum- e seu poderio tido como onipresente e aterrador. A guerra do Chaco, por exemplo, nos anos 30, entre Bolívia e Paraguai, teria resultado de conflito entre interesses petrolíferos americanos e ingleses.
A nacionalização da International Petroleum Company em 1968, no Peru, foi um das razões mais fortes das pressões dos Estados Unidos contra a ditadura nacionalista do general Velasco Alvarado. Café pequeno diante do golpe da CIA no Irã em 1959, dos bloqueios da Líbia e Irã e da guerra contra o Iraque. O Oriente Médio, de imenso barril de petróleo, tornou-se um imenso barril de pólvora.
Como se explicaria o disparo dos preços do petróleo no começo dos anos 70 com participação direta do Irã e da Arábia Saudita, então aliados fiéis do Ocidente? As "irmãs" precisavam de recursos para viabilizar a exploração do mar do Norte, de custo altíssimo. É mais uma das tantas versões conspiratórias. Outra é a de que Mattei, ex-chefe da estatal petrolífera italiana, teria sido morto por contrariar interesses das "irmãs" no norte da África. "Vocês não estariam tão abandonados se em vez de verduras produzissem ouro negro", foi dito a bósnios que se queixavam da negligência diante de sua tragédia.
Mas agora há especialistas apostando que a Guerra do Golfo (1991) foi a última provocada pelo petróleo, em razão da dificuldade de se repetir sua dose de violência. A inclusão da Venezuela no roteiro de Clinton pela América do Sul premiou o maior fornecedor de petróleo dos Estados Unidos (bateu a Arábia Saudita) e documentos americanos falam de "suprimento garantido" por meio de fontes jorrando ao lado.
O México tornou-se "a mais promissora fonte de petróleo" e não há nenhum risco de que se repitam os traumas dos anos 30. O nacionalismo está em baixa na América Latina. Mas o poder do petróleo continua imenso. À frente das cem maiores multinacionais do mundo está a Shell.
As turbulências do petróleo continuam presentes nas relações internacionais. Os Estados Unidos querem bloquear negócios da Total, da França, com o Irã, não tanto pelos negócios em si, mas sobretudo pela ruptura do bloqueio.
A história do petróleo registra ainda a tentativa de países produtores do Terceiro Mundo de estabelecerem cartéis de matérias-primas capazes de enfrentar interesses do Primeiro Mundo. A Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo) foi fundada em 1960, mas só a partir de 1971 conseguiu que as "irmãs" a tratassem como bloco. Foi reconhecida como espécie de sindicato e teve em Henry Kissinger, ex-secretário de Estado americano, o seu mais feroz adversário. Kissinger temia a proliferação de cartéis do Terceiro Mundo, à imagem da Opep. Outra versão conspiratória, no entanto, é a de que acabou servindo às "irmãs", beneficiárias de preços altos. Hoje pouco ou nada se fala dela.

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