São Paulo, sábado, 18 de outubro de 1997
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América, luzes e sombras

LUCIANO MENDES DE ALMEIDA

Após o encontro do santo padre com as famílias no Rio de Janeiro, está para iniciar-se outra importante reunião para a igreja em nosso continente. Trata-se do "Sínodo da América", que se realizará de 16 de novembro a 12 de dezembro, em Roma. Essa convocação do papa João Paulo 2º insere-se no programa de preparação ao Jubileu do ano 2000.
Os membros eleitos e nomeados para a Assembléia Sinodal já têm em mãos o documento de trabalho ("Instrumentum laboris"), que recolhe e organiza as propostas enviadas pelas 24 Conferências Episcopais ao questionário remetido a 3 de setembro de 1996.
O documento, de 69 parágrafos, contém uma introdução que faz referência a três características da identidade religiosa da América: a raiz cristã, a vitalidade de igrejas jovens e o pluralismo cultural. Seguem-se quatro partes e uma conclusão.
A primeira é dedicada ao "Encontro com Jesus Cristo vivo" e insiste em que seja integral a apresentação do Mistério de Cristo e de suas palavras de amor e esperança aos homens e mulheres de hoje. Um capítulo especial trata da relação entre Evangelho e cultura.
A segunda parte, depois de avaliar os aspectos positivos de nossa realidade, mostra como o encontro com Cristo leva à conversão pessoal, comunitária e da sociedade.
A terceira reafirma o convite de Cristo a todos, para que, uma vez convertidos, vivam em comunhão com Deus e o próximo. Essa é a finalidade da evangelização. Depois de considerar os desafios à comunhão eclesial, incentiva a abertura, sempre maior, às relações ecumênicas e ao diálogo inter-religioso.
A última parte é um apelo à solidariedade, como expressão do amor fraterno. A autenticidade da evangelização se manifesta pelo serviço desinteressado e comprometido em favor dos mais necessitados. À luz da doutrina social da igreja, exorta à libertação da miséria, à promoção da cultura da vida, à solução da dívida externa internacional e aos efeitos negativos da globalização econômica, à ação pastoral solidária com os operários, camponeses, prisioneiros, indígenas e outros, empenhando-se na construção de uma sociedade justa e fraterna.
Uma breve conclusão convoca todos à missão desafiadora, sob a proteção de Nossa Senhora de Guadalupe, de anunciar, com novo ardor, Jesus Cristo na complexa realidade do continente americano.
Há que superar os aspectos negativos -"as sombras"-, como o conceito de liberdade sem critério pelo compromisso, as desigualdades e injustiças sociais, a violência, a corrupção das estruturas do poder.
São fortes os sinais de esperança -"as luzes"- que nos ajudam a perceber as aspirações profundas que trabalham o coração humano e predispõem ao encontro com a mensagem salvadora de Jesus Cristo. Cresce, com efeito, em nossos povos, a consciência da dignidade da pessoa humana e dos direitos inalienáveis, o respeito pela natureza, o interesse pelos valores espirituais e a sensibilidade dos jovens pelas necessidades do próximo.
O evento singular na igreja de um sínodo para toda a América há de contribuir para que, seguindo Jesus Cristo, possamos ajudar a vencer barreiras e distâncias e encontrar Nele os caminhos de uma verdadeira fraternidade.

D. Luciano Mendes de Almeida escreve aos sábados nesta coluna.

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