São Paulo, domingo, 19 de outubro de 1997
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Projeto Jari

Jari Celulose S/A
. Principais acionistas
Guilherme Frering e Mario Frering - 36%
BNDES - 20%
Banco do Brasil - 12,5%
. Principal produto: celulose
. Área total: 1,6 milhão de hectares
. Área plantada: 62 mil hectares (eucalipto e pinus)
. Número de funcionários: 1.600
Balanço de 96
. Patrimônio líquido: R$ 704 milhões
. Faturamento: R$ 140 milhões
. Resultado: prejuízo de R$ 133,6 milhões
. Produção: 270 mil toneladas de celulose
. Dívida: R$ 320 milhões (em junho de 97)
. Principais credores:
BNDES (R$ 75 milhões)
Banco do Brasil (R$ 40 milhões)

Fonte: Jari Celulose S/A

Cronologia
. 1967
O empresário norte-americano Daniel K. Ludwig, um dos quatro homens mais ricos do mundo nessa ocasião, compra 1,2 milhão de hectares por US$ 4,7 milhões, na divisa do Estado do Pará e do então Território do Amapá, onde funda o Projeto Jari (nome do rio que corta a região). Mais tarde o projeto englobaria uma área ainda maior, chegando atualmente a 1,6 milhão de hectares. A intenção de Ludwig é produzir ali celulose e alimentos (iniciando pelo cultivo de arroz). Começam os trabalhos de desmatamento, terraplanagem e reflorestamento.

. 1970
Enfrentando problemas no desmatamento com tratores, que arrancava as raízes e prejudicava o solo, Ludwig informa o governo que precisará adotar o trabalho manual, contratando funcionários que passaram a fazer o serviço com moto-serras. Logo Ludwig enfrentaria outro problema: a gmelina, espécie selecionada inicialmente para a produção de celulose, se mostra vulnerável a pragas tropicais e logo começaria a ser substituída pelo pinus e o eucalipto. Ainda em 70, trabalhadores do Jari protestam contra as condições de trabalho, durante visita do então presidente da República, o general Emílio Médici.

. 1974
Ludwig amplia seus investimentos no Brasil. Projeta então construir duas fábricas de celulose no Jari, plantar 14 mil hectares de arroz e uma usina hidrelétrica também na região. Até hoje a hidrelétrica não saiu do papel e é tida como imprescindível para a viabilidade econômica do projeto.

. 1978
Em 1978, após viagem de 57 dias e 21 mil quilômetros, chega do Japão duas plataformas industriais contruídas para o Jari, uma unidade industrial e uma usina termogeradora de produção de energia. Ludwig começa a dar sinais de desânimo com o projeto, que já não conta com o entusiasmo do governo federal, enquanto aumenta a oposição à sua continuidade. Em 79, durante a reunião anual da SBPC (Sociedade Brasileira de Pesquisa Científica), representante do Projeto Jari é vaiado durante palestra. A comunidade científica acusa o projeto de ter desmatado mais de 700 mil hectares de florestas.

. 1980
Não bastassem os problemas que o projeta já enfrenta, Ludwig ainda enfretaria dúvidas sobre a posse legal da área comprada em 67. Alguns membros do governo dizem que ele possui apenas o direito ao uso da terra e não a propriedade da área. Em fevereiro de 80, o governo cria o Gebam (Grupo Executivo para a Região do Baixo Amazonas), com o objetivo de fortalecer a presença do governo federal na região. Ligado ao SNI (Serviço Nacional de Informação), o Gebam seria um dos maiores críticos do Jari e teria papel fundamental na saída de Ludwig do projeto e na sua nacionalização.

. 1982
O então ministro do Planejamento Delfim Netto, diante do desinteresse de Daniel Ludwig e das críticas de setores nacionalistas ao emprendimento estrangeiro, convoca um grupo de 23 empresários brasileiros a assumir o Projeto Jari, tendo à frente o engenheiro paulista Augusto Trajano de Azevedo Antunes, com experiência bem-sucedida na região amazônica, proprietário do grupo Caemi de mineração. Como contrapartida, o governo se comprometa a dar apoio financeiro ao empreendimento, usando para isso os bancos oficiais.

. Personagens
Personagens
. Nos anos 60, quando decidiu investir no Brasil, Daniel Keith Ludwig, já setuagenário, é um dos quatro homens mais ricos do mundo, com uma fortuna estimada em 5 bilhões de dólares. Começou seus negócios no ramo do transporte marítimo, mas também atuou na indústria, empregando no final dos anos 70 mais de 20 mil pessoas em 21 países. Sem filhos, criou uma fundação para estudar a cura do câncer, com sede na Suíça, e que passaria a dona de suas propriedades quando morresse. Discreto e avesso à publicidade, Ludwig ganhou muito dinheiro com o transporte de petróleo após a 2ª Guerra Mundial e com seus amigos influentes, muitos deles ligados a bancos norte-americanos. Morreu em 1992, aos 95 anos.

. Em 1982, o então ministro Antonio Delfim Netto (Planejamento) foi o articulador do que deveria ser uma solução para a crise que o Projeto Jari enfrentava, recebendo críticas da esquerda mas também de setores nacionalistas ligados ao Exército. Delfim convocou 23 empresários para tocar o Jari e colocou a máquina do governo federal, com o Banco do Brasil e o BNDE (mais tarde BNDES) entrando com linhas de crédito. O paulista Augusto Trajano de Azevedo Antunes, com experiência na região amazônica, foi colocado então à frente do empreendimento.

. Engenheiro paulista, Augusto Trajano de Azevedo Antunes começou seus negócios em 1940, em Minas Gerais, com a Icomi (Indústria e Comércio de Minérios), que teve forte presença na região amazônica com a exploração de manganês, e serviu de aval para a sua escolha à frente da fase nacional do Projeto Jari. Mais tarde, foi criada a Caemi, holding do grupo, atualmente controlada por Guilherme e Mario Frering, netos de Azevedo Antunes. Entre as empresas que pertenceram ao empresário, estão a MBR (Minerações Brasileiras Reunidas), na qual teve Daniel Ludwig como sócio e a Amcel, do setor de papel e celulose, vendida em 96. Morreu no ano passado, aos 89.

Fonte: Livro "Jari - Uma Responsabilidade Brasileira", de Glauco Carneiro

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