São Paulo, terça-feira, 21 de outubro de 1997
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Clandestino adota regras de profissionalização

RODRIGO VERGARA
DA REPORTAGEM LOCAL

Escala de motoristas, tempo determinado de espera no ponto e regras para o trato com o passageiro.
As medidas, adotadas por alguns perueiros de São Paulo para organizar o serviço entre os motoristas, emprestam algum profissionalismo à atividade, mas a falta de rigor no cumprimento das regras prejudica a credibilidade do sistema como alternativa de transporte.
Além disso, faltam regras que controlem, por exemplo, a segurança oferecida aos passageiros.
Pesquisa Datafolha confirma que a maioria da população aprova os lotações, mas o considera menos seguro que os ônibus (leia texto à página 3).
A Folha foi à zona norte de São Paulo conferir o funcionamento de algumas linhas clandestinas.
A realidade encontrada não é indigente, como apregoa o vereador Natalício Bezerra (PTB), autor de projeto que extingue a atividade, nem impecável, como sugerem as associações de perueiros.
"O perueiro faz o que quer. De manhã faz lotação, à tarde transporta carga e à noite distribui jornal", diz. Bezerra admite que seu projeto beneficia os taxistas, categoria cujo sindicato ele dirige.
Já Sofia Arten, presidente de uma das associações de perueiros da cidade, diz que seus associados "trabalham sob controle rígido".
Regras
Os 9,5 km da linha de lotação Metrô Santana-Vila Albertina são partilhados por 30 perueiros, que usam a rota do ônibus 1786.
A maioria dos passageiros embarca nos pontos iniciais, mas alguns são colhidos nos pontos de ônibus, que viram também pontos de lotação.
As regras que definem esse transporte são elaboradas pelos próprios perueiros, em um sistema semelhante ao de uma cooperativa.
O regulamento prevê que os perueiros da rota elejam um deles para coordenador da linha. Esse motorista é responsável por controlar o cotidiano da linha. Fiscais contratados o ajudam na tarefa.
Trabalham entre 2 e 4 fiscais por linha, nos pontos inicial e final da rota. Cada um ganha R$ 25 por dia.
Uma das principais funções do fiscal é checar se cada perueiro cumpre o itinerário até o fim. A medida pretende evitar que, nos horários de pico, o motorista volte ao ponto de maior movimento assim que o último passageiro desembarca, "roubando" clientes de outros perueiros.
As regras, porém, permitem ao perueiro desviar-se do trajeto original para evitar trânsito, por exemplo. Os perueiros alegam que isso só ocorre se o veículo estiver cheio, caso contrário o motorista teria interesse em ficar na linha para pegar mais passageiros.
Para a passageira Tânia Pompeu, 31, essa liberdade é um problema. Ela diz que não usa mais o lotação porque a rua em que desce vive congestionada e os perueiros reclamam quando ela não concorda em fugir da rota original.
A frequência das partidas dos lotações também é definida e fiscalizada e varia ao longo do dia. Das 6h às 9h, as peruas partem a cada 2 minutos. Das 9h às 17h, a cada 5 minutos. Após as 17h, voltam à frequência da manhã.

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