São Paulo, terça-feira, 21 de outubro de 1997
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"Escola do Sul" mostra Torres-García

FERNANDO GODINHO
DE BUENOS AIRES

Em 1941, o pintor uruguaio Joaquín Torres-García colocou a América do Sul de cabeça para baixo: no mapa do continente pintado no quadro "Indoamerica", a Patagônia (no extremo sul da Argentina) está apontando para a América do Norte.
A idéia era tornar a arte latino-americana independente da influência colonial européia, colocando a tradição "indo-americana" como ponto de partida para a moderna produção artística da região. Os velhos conceitos herdados da colonização européia teriam que ser abandonados.
Morto em 1949 aos 75 anos, Torres-García é considerado hoje um dos principais nomes da pintura moderna na América Latina.
Uma boa mostra do seu trabalho e da sua influência artística no Uruguai poderá ser visto a partir de hoje no Pavilhão Cultural Renée Behar, o novo espaço artístico da cidade.
Em uma casa de 90 metros quarados em estilo vitoriano, o Pavilhão Cultural Renée Behar consumiu cerca de US$ 200 mil e possui computadores e uma biblioteca à disposição do público, além do espaço reservado para um café.
A exposição das obras produzidas no ateliê artístico de Torres-García inaugura uma programação que pretende incorporar mostras dos Estados Unidos, da Europa e do Mercosul.
Diretor artístico do Pavilhão Cultural, o argentino Miguel Enrique Frías já programou para novembro a apresentação de 56 cerâmicas pintadas pelo espanhol Pablo Picasso.
Na sua agenda também estão anotadas mostras com esculturas de Salvador Dali -outro espanhol-, arte mexicana e autores contemporâneos argentinos.
"O brasileiro tem necessidade de expandir suas fronteiras culturais. Isso não quer dizer que o país não é culto. Mas são informações que devem chegar a mais gente", afirma Frías, que considera importante trazer para o Brasil um exemplo significativo da arte latino-americana.
História
A exposição "Escola do Sul" tem o mesmo nome do movimento criado por Torres-García em 1934, no Uruguai, e que consumiu os últimos 15 anos de sua vida. Serão exibidas 30 peças produzidas por ele e pelos alunos do seu ateliê, que começou a funcionar em 1943.
Além das obras de Torres-García -inclusive "Indoamérica"-, o público poderá ver quadros de José Gurvich, Julio Alpuy e Augusto Garcia, entre outros.
"Denominei 'Escola do Sul' porque, em realidade, nosso Norte é o Sul. Por isso colocamos nosso mapa ao revés. E então teremos a noção exata da nossa posição", afirmou o pintor em fevereiro de 1935, ao lançar o manifesto do seu movimento.
Ele havia retornado a Montevidéu (capital do Uruguai) um ano antes, após 43 anos de ausência.
A curadora da exposição, Cecília de Torres, conta que o grupo de jovens que deu origem ao ateliê de Torres-García não tinha "nenhuma formação artística".
Por isso, o ateliê se transformou em um "laboratório para o exercício de idéias, materiais e técnicas novas", que produziu pinturas, esculturas, cerâmicas, móveis, murais e projetos de arquitetura.
A exposição inaugural do Renée Behar vai mostrar ao público o resultado das idéias de um pintor que acreditava em uma "arte inédita" na América Latina e que defendeu suas idéias com quadros, discursos e artigos de jornal.

Exposição: Escola do Sul
Vernissage: hoje, às 20h (só para convidados)
Quando: seg. a sex., das 9h30 às 18h30, e sáb., das 10h às 13h; até 18 de novembro
Onde: Pavilhão Cultural Renée Behar (r. Peixoto Gomide, 2.088, tel. 853-3622) Quanto: entrada franca

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