São Paulo, quarta-feira, 22 de outubro de 1997
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Palavras devolvidas

JANIO DE FREITAS

A fortíssima pressão da Presidência da República e de alguns ministros para a aprovação, por uma comissão mista de Senado e Câmara, das contas do governo relativas a 96 não poderá apagar, seja qual for o seu êxito, as constatações já presentes na análise do Tribunal de Contas da União, negadas pelo governo, mas agora confirmadas pelo senador-relator, Jefferson Peres, do PSDB (porém altivo).
A pesada redução de gastos em saúde e educação, embora a existência de recursos disponíveis no Orçamento, foi tão injustificada que levou o senador peessedebista (porém não serviçal) a registrar que se mostra "ainda mais grave quando se considera que a priorização dessas áreas foi objeto da campanha eleitoral do senador Fernando Henrique Cardoso".
Todas as estocadas de Fernando Henrique Cardoso contra os que apontaram redução de gastos sociais, por ele chamados mentirosos, entre outras coisas, voltam-se em definitivo contra o autor -o primeiro dos presidentes, pelo menos desde 30, a aplicar tal corte nas verbas de saúde e educação.
Sócios bons são sócios em todas as circunstâncias. Sérgio Motta leva também o seu recorde e o desmentido correspondente. O estouro de gastos na área das Comunicações foi uma orgia financeira. Nada menos de nove empresas controladas por Sérgio Motta esbanjaram muito além do permitido e cabível.
De quebra, o senador peessedebista (porém erecto) corrobora as indicações de desrespeitos à Constituição por Fernando Henrique Cardoso, citando a desobediência sistemática aos artigos 60 e 212.
Nem em casa
Um dos integrantes do grupo de Sérgio Motta por ele indicados para a Agência Nacional de Telecomunicações, Renato Guerreiro, deixou escapulir um desmentido a Sérgio Motta mais preciso, porque numérico, do que o publicado aqui ontem.
Como justificativa dos tantos negócios que gastam muito e em nada melhoram as telecomunicações, Sérgio Motta inventou que "o setor ficou 40 anos sem investimentos", quando, de fato, foi o mais beneficiado pela ditadura militar.
Ainda no seu espasmo bajulatório, pela indicação para a Anatel, Guerreiro lembrou "a revolução que há 20 anos passou de 2 milhões para 17 milhões o número de telefones".
Nem quando dá presente Sérgio Motta é levado a sério.
Além do mais
A pretensão do governo de montar uma TV do Executivo, para funcionar na rede como as TVs do Senado e da Câmara, é absurda por muitos aspectos.
O governo já tem e usa as TVs da Fundação Roquette Pinto (as Educativas mas não tanto) e da Radiobrás. Já por aí não precisaria de outra. Além disso, TVs convencionais, como as suas, alcançam os associados a redes de cabo e os outros muitos milhões que não têm TV a cabo.
Se a idéia não envolvesse negócios altos e ainda interesses políticos não menos desprezíveis, poderia ser vista como obtusidade apenas.

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