São Paulo, quinta-feira, 23 de outubro de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Atmosfera de Poe vive em 'O Mistério de Rampo'

MARILENE FELINTO
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

"Rampo", ou "Edogawa Rampo", é como um japonês pronuncia o nome do escritor e poeta americano Edgar Allan Poe, que se consagrou no gênero de histórias de horror e mistério.
No filme de Kazuyoshi Okuyama, "O Mistério de Rampo", Edogawa Rampo é o pseudônimo de Hirai Taro, escritor japonês de contos de mistério, popular nos anos 20. Ele adotou o apelido em homenagem a Poe, sua influência.
Okuyama transforma em cinema a loucura da vida e da obra de Rampo-Poe. A transformação é impressionante pela narrativa complexa e pelos efeitos visuais de riqueza surpreendente.
O filme começa quando censores japoneses proíbem uma história de Rampo sobre uma mulher que mata o marido trancando-o e sufocando-o dentro de um baú.
Rampo então queima o manuscrito condenado por promover conduta criminosa. Até que seu agente lhe mostra uma notícia de jornal com um caso real idêntico ao de sua história.
Rampo vai atrás da mulher acusada de assassinato. Faz amizade com ela. Aos poucos, vai ficando obcecado por Shizuko, que parece ter saído da ficção para a realidade.
Nesse momento, a narrativa dá um salto. Já não saberemos quem existe ou não existe, o que é realidade ou produto da imaginação.
Para explorar a fundo a vida de Shizuko, Rampo cria um personagem, o detetive Akeshi. Ele descobre que Shizuko está envolvida com prostituição e pornografia, mas logo interrompe a investigação. Vira um narrador impotente.
Quando as coisas parecem fora de controle, é o próprio autor quem entra em cena, numa tentativa desesperada de salvar Shizuko, por quem está apaixonado.
"O Mistério de Rampo" é o filme de estréia do diretor Okuyama, reconhecido produtor do cinema japonês contemporâneo. Em "Rampo", ele vai ao fundo do baú na exploração da psicologia das mentes e das personagens.
Okuyama captou o mistério de Rampo no original Poe. O autor de "Assassinatos da Rua Morgue" chegou a confiar nos sonhos como a única realidade.
Edgar Allan Poe (1809-1849) morreu louco, depois de escrever sua última obra, "Eureka", um ensaio sobre a criação do universo.
No prefácio-dedicatória, ele escreveu: "Aos que sentem, mais do que pensam; aos sonhadores e àqueles que confiam nos sonhos como nas únicas realidades, dedico este livro de Verdades (...)".

Texto Anterior: Frei exibe conflito de gerações em Cuba
Próximo Texto: Saiba os filmes de hoje da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.