São Paulo, quinta-feira, 23 de outubro de 1997 |
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Argélia faz eleição para seduzir Ocidente
IGOR GIELOW
Não existe pesquisa eleitoral confiável na Argélia. Os jornais locais apontam uma vitória folgada para o partido do presidente Liamine Zeroual, a RND (Reunião Nacional Democrática). Em segundo lugar, deverão disputar as 15 mil vagas legislativas locais o MSP (Movimento por uma Sociedade Pacífica), grupo islâmico moderado, e a FLN (Frente de Libertação Nacional), partido que criou o moderno Estado argelino e foi único no país de 1962 a 1989. Mas as projeções vêm carregadas de críticas a eventuais fraudes, como ocorreu na eleição legislativa de junho passado e na presidencial do fim de 1995 -que confirmou o general Zeroual no cargo. Até ontem não havia ocorrido nenhum grande incidente no país, para alívio do governo. O fato mais grave ocorreu anteontem, quando o Exército atacou um comando do extremista GIA (Grupo Islâmico Armado). Cerca de 15 membros do grupo foram mortos a dez minutos do centro de Argel, na floresta de Bainen. Na eleição de hoje estarão em jogo 15 mil vagas de conselheiros das cidades e Províncias. São 84 mil candidatos de 37 partidos. Em 12 de junho de 1990, nas últimas eleições desse tipo, a FIS abocanhou 32 das 48 Províncias e quase 90% dos conselhos municipais. Esse crescimento islâmico assustou o status quo militar argelino. Em 1991, a FIS (Frente Islâmica de Salvação, grupo extremista hoje proscrito) teve esmagadora vitória no primeiro turno das eleições legislativas. Apoiados pelos ex-colonizadores franceses, os militares colocaram a FIS na ilegalidade, detonando a violência por parte dos fundamentalistas islâmicos. Zeroual, que assumiu o poder em 1994, confirmou, em plebiscito contestado por adversários e pela FIS no exterior, uma emenda constitucional que lhe deu poderes quase ditatoriais. Para dar um verniz democrático ao seu regime, convocou as eleições parlamentares de junho. A RND ficou com 155 das 380 cadeiras do Parlamento. O MSP ficou em segundo, com 69, seguido de um ressurgido FLN, com 64. Com as eleições, Zeroual pretende angariar a simpatia do Ocidente a seu governo. Pretende derrotar, ao mesmo tempo, os fundamentalistas e parte da cúpula militar que desaprova sua política -criticando-o por se aproximar da FIS e obter uma posição mais moderada. Texto Anterior: Di Pietro é absolvido em tribunal da Itália Próximo Texto: Governo descarta suposta fraude Índice |
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