São Paulo, quinta-feira, 23 de outubro de 1997
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A ÚLTIMA DA JOGATINA NA TV

O esquema da jogatina pela TV continua. O governo federal ainda não tomou qualquer medida prática para corrigir suas escandalosas irregularidades. Depois que a Folha revelou que as entidades filantrópicas, em benefício das quais os sorteios deveriam ser realizados, recebiam em média apenas 5% da arrecadação total, o Ministério da Justiça criou uma comissão para rever o seu regulamento e o Ministério Público Federal abriu inquérito para investigar o assunto. Além disso, nada foi feito.
A questão, no entanto, começa a tomar contornos escarninhos. Ontem, nova reportagem de Elvira Lobato publicada por este jornal revelou que a Abba, uma das empresas que administra esses sorteios pela TV, antecipou-se a uma eventual decisão do poder público e começou a procurar entidades filantrópicas supostamente beneficiadas para lhes entregar quantias de dinheiro a que teriam direito e não receberam.
Alegando que houve "erro de cálculo" no pagamento, emissários da empresa estão oferecendo malas com notas usadas de dinheiro a algumas dessas entidades filantrópicas, o que parece no mínimo suspeito. Aliás, as empresas negam que estejam fazendo esse acerto por baixo do pano. Além de ser uma confissão involuntária das irregularidades no esquema, a iniciativa é, evidentemente, uma manobra diversionista para reduzir a celeuma criada e desviar a atenção do cerne da questão.
O essencial é que, desde que começaram esses sorteios, a filantropia foi fachada para realizar lucros por meio de jogo. Para reparar esse vício de origem, o governo tem a obrigação de tomar rapidamente medidas firmes e claras a fim de garantir que parte substancial da arrecadação seja de fato destinada às entidades que deveriam ser as beneficiadas.

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