São Paulo, sexta-feira, 24 de outubro de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

O Itamaraty busca o comércio

LUÍS NASSIF

Peça central de qualquer proposta de aumento das exportações, o Departamento de Promoção Comercial do Itamaraty -organismo-chave do boom exportador dos anos 70- tem sido alvo de críticas gerais por parte de exportadores, conforme a coluna veiculou recentemente.
Como resposta às críticas, o Itamaraty informa que esse quadro deverá mudar nos próximos meses. No final de agosto, a empresa de consultoria Booz Allen Hamilton apresentou ao ministro das Relações Exteriores o novo modelo de gestão da promoção comercial, estruturado em torno de duas vertentes: a informação e a inteligência comercial, e a representação.
Entregue a proposta, entre 6 e 10 de setembro ocorreu o treinamento de diplomatas, funcionários e técnicos do departamento. Nos próximos meses serão implantados cinco projetos-piloto -respectivamente em Nova York, Londres, Milão, Tóquio e Buenos Aires.
O modelo montado pela Booz Allen baseou-se nos seguintes princípios:
a) Informação e inteligência comercial:
Consiste na disseminação de informações sobre oportunidades comerciais e de investimento, bem como pesquisa, análise e desenvolvimento de estudos de mercado, com ênfase na identificação de produtos competitivos e oportunidades de expansão das exportações brasileiras em novos mercados e em setores de mercados tradicionais insuficientemente explorados.
Esse sistema está sendo desenvolvido em cooperação com o International Trade Center (Unctad/OMC). As informações serão oferecidas por meio da Internet pela Rede Brasileira de Promoção Comercial, com versões em português, inglês e espanhol. No último dia 19 de setembro o projeto começou a ser testado.
b) Representação:
Consistirá na realização de eventos (missões empresariais, seminários, feiras e exposições), de iniciativa do governo e de entidades privadas, que contribuam para a expansão das exportações brasileiras, para a atração de investimentos e tecnologia de ponta, para a divulgação das realizações do empresariado brasileiro e para o aumento dos fluxos de turismo em direção ao Brasil.
Essas ações promocionais estarão concentradas em mercados estratégicos, definidos pela Câmara de Comércio Exterior (Camex), órgão consultivo que atua no âmbito da Casa Civil da Presidência da República.
Busca da vontade
Para implementação do projeto, a Booz Allen previu uma série de processos de gestão, como planejamento de ações, orçamentação, administração da rede de setores de promoção comercial e criação de indicadores de desempenho.
Serão mantidos setores de promoção comercial em 48 países, que correspondem a 95,4% do PIB mundial, a 91,5% das importações mundiais e a 92% das exportações de produtos e serviços brasileiros.
É passo importante, mas que terá de comprovar sua eficácia na prática. Como organização, o Itamaraty está há anos luz do que se espera em uma quadra da história onde a diplomacia de negócios assume posição crucial no destino dos países.
Hoje em dia, o pouco que se faz depende da vontade individual de diplomatas e funcionários de embaixadas e consulados. No plano comercial e cultural, nos seminários e eventos internacionais, as informações que chegam são de uma atuação quase desinteressada da nossa diplomacia -em grande parte devido à inércia da máquina diplomática, desestimulando e sufocando iniciativas individuais.
A implantação de programas planejados e com indicadores de desempenho é boa oportunidade para a corporação acabar com a monocultura das recepções como única forma de ação diplomática.

E-mail: lnassif@uol.com.br

Texto Anterior: China diminui as suas taxas de juros
Próximo Texto: TRF mantém bloqueio de venda de banco; Desemprego chega a 14,7% em Curitiba; Imóveis da Engesa vão novamente a leilão
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.