São Paulo, sexta-feira, 24 de outubro de 1997
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Casa psiquiátrica cria Espaço Artaud

Centro debate obra de escritor

CARLOS HENRIQUE SANTIAGO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELO HORIZONTE

Uma clínica psiquiátrica de Belo Horizonte criou um espaço cultural voltado para o estudo da arte do escritor francês Antonin Artaud (1896-1948), cujo cinquentenário de morte será no ano que vem. Além de debater a obra do escritor, o Espaço Cultural Artaud, localizado na zona sul da capital mineira, tem o objetivo de aplicar suas propostas radicais sobre arte.
A iniciativa é da Casa Freud, uma clínica que se propõe a acabar com o estigma que atinge não só o paciente, como os funcionários e as instituições psiquiátricas.
Segundo o psiquiatra Musso Greco, da Casa Freud, Artaud, que foi paciente psiquiátrico, pretendia transformar a vida e a realidade em arte.
"Para Artaud, a arte é louca, se a considerarmos como um processo criador independente, capaz de opor-se aos padrões enraizados da cultura", afirma Greco.
A programação do Espaço Artaud foi lançada na semana passada com a abertura de uma mostra coletiva de música, artes plásticas, literatura, vídeo e teatro.
Durante o lançamento, estava prevista uma leitura de textos do escritor.
Greco explica que o espaço já funcionava desde o início do ano, com poucas oficinas. A partir de novembro, ele inicia as atividades normais, com um número maior de eventos.
No próximo mês, será realizado um ciclo de debates sobre a obra e os temas presentes nos textos de Artaud.
Para abril do ano que vem, está prevista a realização da Semana Bispo do Rosário, que vai realizar mesas redondas sobre o artista plástico, cuja obra foi realizada em um manicômio do Rio.
Serão oferecidas ainda 15 oficinas de criação em artes plásticas, arte utilitária, literatura, música, fotografia, vídeo, rádio, reciclagem e expressão corporal.
Para participar, não é necessário ser psiquiatra ou paciente. Segundo os organizadores, o objetivo é atender a toda a comunidade da cidade, incluindo a clientela de instituições de tratamento psiquiátrico. A obra deixada por Artaud não se limita a poemas e peças de teatro. Ele também escreveu uma ópera e um monólogo para rádio, foi roteirista e ator de cinema e deixou centenas de cartas que ainda estão sendo estudadas.
Nos anos 30, concebeu o Teatro da Crueldade, onde atores e platéia participariam do espetáculo. Foi internado no final da vida e morreu em seu quarto de hospício, em um subúrbio de Paris, em 4 de março de 1948.

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