São Paulo, sexta-feira, 24 de outubro de 1997
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Sacco acha HQ mais eficaz do que livro

CARLOS HENRIQUE SANTIAGO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELO HORIZONTE

Para o jornalista e desenhista Joe Sacco, 37, uma história em quadrinhos pode mostrar mais sobre a realidade da guerra da Bósnia ou sobre o cotidiano dos palestinos do que reportagem ou livro.
Sacco está em Belo Horizonte, onde participa da 3ª Bienal Internacional de Quadrinhos, uma promoção da prefeitura da capital mineira e do Centro Nacional de Quadrinhos, Roteiro e Imagens.
"Às vezes, as pessoas não estão interessadas em ler um livro, mas se você lhes dá uma história em quadrinhos, pode ser que elas leiam", explica.
Nascido na ilha de Malta, Sacco passou a infância na Austrália e depois se mudou para os EUA. Ele se formou em jornalismo, mas achou a profissão "entediante".
Após trabalhar em jornais de empresa e redigir reportagens pagas para uma revista, voltou a desenhar histórias em quadrinhos autobiográficas.
As primeiras falavam de uma viagem pela Europa com uma banda de rock, de seu trabalho em uma biblioteca e da experiência de sua mãe na ilha de Malta, durante a Segunda Guerra Mundial.
A primeira reportagem em quadrinhos foi "Palestine", publicada em uma série de nove revistas (reunidas depois em dois álbuns), sobre sua viagem aos territórios ocupados por Israel.
Sacco conta que, para fazer as reportagens, não se inspira em desenhistas, mas no escritor inglês George Orwell, autor de "1984".
Reportagem em quadrinhos
"Deve ter alguém que fez reportagem em quadrinhos antes, mas não conheço. Hoje já existe uma revista nos EUA que envia cartunistas para fazer reportagens", diz.
O desenhista, no entanto, teve de se virar sozinho para viajar à Palestina e à Bósnia. À primeira, ele viajou como turista e, com a ajuda de representantes das Organizações das Nações Unidas, fez passeios nos territórios ocupados.
Para ir à Bósnia, vendeu originais de suas histórias e conseguiu reunir US$ 4.000, mas, para entrar no país, precisaria também de uma credencial de jornalista.
"Foi sorte ter conseguido a credencial, porque, se tivessem pedido meus trabalhos jornalísticos, iam dar risadas ao saber que faço quadrinhos", diz.
Durante quatro meses e meio, ele esteve no local do conflito bósnio. "Foi bom que eu não tivesse dinheiro para ficar gastando em lugares luxuosos. Por isso, tinha mais contato com os moradores."
A primeira história de sua viagem à Bósnia foi publicada em março pela revista norte-americana "Zerozero".
(CHS)

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