São Paulo, sábado, 25 de outubro de 1997
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Mostra com filha de Motta conta com apoio oficial

MARIO CESAR CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL

A maior, a mais visível e a mais cara das obras do Arte/Cidade não é de nenhum dos 37 artistas que integram o projeto. É de um grupo de três estudantes do quinto ano de arquitetura da USP, capitaneado por Renata Motta.
Renata, 26, é filha do ministro Sérgio Motta (Comunicações). A Telebrás e a Telesp, empresas subordinadas a Motta, estão entre os principais patrocinadores do Arte/Cidade, megaevento de R$ 4 milhões. Deram R$ 800 mil.
A terceira edição do Arte/Cidade ocupa a estação da Luz e as ruínas do Moinho Central e das Indústrias Matarazzo, na região central de São Paulo.
Os estudantes de arquitetura Renata Motta, Paula Santoro, 24, e Elísio Yamada, 27, foram encarregados de fazer uma "intervenção em escala urbana" em três passarelas, três torres e cinco viadutos (veja mapa acima).
Bienal
O trio nunca havia participado de mostras de arte ou arquitetura. O mais perto que Renata chegou desse mundo foi ter trabalhado na 22ª Bienal de São Paulo (1994).
No Arte/Cidade, está estreando ao lado de artistas ou arquitetos do porte de Cildo Meirelles, Carlos Vergara, Paulo Mendes da Rocha e José Miguel Wisnik.
Não é fácil ser filha de Motta, reconhece Renata. "As pessoas sempre desconfiam de eventuais usos políticos que eu possa fazer das coisas. Mas o patrocínio da Telebrás foi conseguido antes da minha entrada no Arte/Cidade", diz.
Segundo Nelson Brissac Peixoto, curador do evento, os R$ 350 mil gastos na intervenção não saíram da verba da Telebrás.
O trio tem patrocinadores independentes -a Companhia Brasileira de Alumínio e a Sansuy, fábrica de lona.
Na ocupação de espaços, Renata segue o estilo do pai -é onipresente. É a única convidada do Arte/Cidade a ter obras em todos os locais onde ocorre o projeto.
Contraponto à ruína
O que o trio faz, afinal, de tão especial? Renata, Paula e Elísio estão recobrindo passarelas e viadutos com uma lona plástica vermelha. A escala é sempre gigantesca -trabalhos de 30, 40 metros de comprimento por 4, 5 metros de altura. As formas são elementares (cubos ou paralelepípedos).
"A idéia é frisar a derrocada histórica dessa área onde funcionou a maior indústria da América Latina e abrir espaços para o futuro", diz Renata.
As formas simples e limpas em lona vermelha funcionariam como um contraponto ao abandono, às ruínas, afirma.
O trabalho do trio foi feito para incomodar, para provocar o olhar a ver a cidade de outra forma, diz Paula.
Não só pelo porte -já foram gastos 6 mil metros quadrados de lona vermelha, o suficiente para cobrir um campo de futebol.
Incomoda por causa da cor. Artistas como Paulo Pasta, Cao Guimarães e Arnaldo Pappalardo trombaram com a lona vermelha.
Pappalardo e Guimarães tiveram de mudar de sala. Diante de Pasta, que fez uma lâmina púrpura numa parede, incompatível com o vermelho, segundo ele, Renata recuou . "Ela entendeu que a coisa não conviveria. Foi muito legal", conta Pasta.

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