São Paulo, sábado, 25 de outubro de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

"Eles nos Ensinam..." traz o drama dos refugiados na Suíça

RUI MARTINS
ESPECIAL PARA A FOLHA

O suíço Peter von Gunten, diretor de "Eles nos Ensinam a Sermos Felizes", pode ser qualificado como o cineasta dos sem-terra.
O diretor está em São Paulo a convite do festival, que exibe hoje o seu filme.
Von Gunten é conhecedor do Brasil, onde filmou clandestinamente, durante a ditadura, a expropriação dos camponeses na construção da barragem de Sobradinho.
Seu último filme é o relato doloroso de outro tipo de sem-terra, os refugiados maltratados na Suíça.
Von Gunten conversou com a Folha em Berna, na Suíça.
*
Folha - Como será sua estadia no Brasil?
Peter von Gunten - Além de exibir "Eles nos Ensinam a Ser Felizes", vou mostrar meus trabalhos para os alunos da Escola Suíça de São Paulo e, no Instituto Goethe, em Parati, apresentarei um filme feito no Brasil, "Vozes d'Alma".
Folha - Do que trata "Vozes d'Alma"?
Von Gunten - É sobre o culto afro-brasileiro, um documentário de três horas reduzido para duas. Rodei o filme num terreiro bastante pobre, em Recife, mas nele não trato só da cerimônia do candomblé, mas de tudo o que se passa em torno, em termos de trabalho e de violência.
Folha - Como foram as filmagens de "Terra Roubada", primeiro documento sobre os sem-terra?
Von Gunten - O bispo local era a única garantia para nós e para as pessoas expulsas da área ocupada pela barragem. Cheguei logo depois de terem sido desalojados os camponeses, cerca de 5.000, quando a água começou a subir, e filmei alguns depoimentos. Quando caiu a ditadura, soube que meu filme serviu de documento para se apurar o que ocorrera em Sobradinho.
Folha - Como considera o movimento dos sem-terra?
Von Gunten - Na região de Sobradinho, esse movimento era muito forte até 85, mas depois se desanimaram e viram que não tinham chances com a implantação dos grandes projetos. A população pobre que ali vivia, com família e gado, perdeu tudo.
Folha - Pensa em fazer outro filme no Brasil?
Von Gunten - Sim, uma ficção não política. Meu filme será rodado em Salvador, na Bahia, com suíços, alemães e brasileiros.
Folha - Como explica seu filme exibido na mostra?
Von Gunten - Na Suíça, ao contrário de outros países, não existe o direito à imigração, o que força os imigrantes a entrarem como refugiados. Ora, isso criou um problema para os verdadeiros refugiados, vindos dos países em crise, pois a Suíça parte do princípio de que os requerentes de asilo não são refugiados.

Texto Anterior: Festival vai ao Rio de Janeiro e a Salvador
Próximo Texto: Saiba os filmes de hoje da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.