São Paulo, domingo, 26 de outubro de 1997
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O Bilbao desiste do BCN

CELSO PINTO

O banco espanhol Bilbao Viscaya (BBV) desistiu de comprar o BCN. O Bradesco passa a ser o principal candidato à compra.
O que fez o BBV desistir foram as condições de venda do banco Meridional, que o Banco Central exigia que ele adquirisse como "pedágio" para comprar o BCN. A grande novidade é que o BC também está exigindo do Bradesco, ou de outros candidatos nacionais à compra do BCN, que comprem, antes, o Meridional.
Passa a valer, portanto, um novo princípio. Grandes negócios de fusão e aquisição de bancos no Brasil só serão aprovados pelo BC se os interessados ajudarem o governo a resolver um abacaxi, comprando bancos estaduais complicados. Depois do Meridional, o próximo abacaxi que servirá de passaporte será o mineiro Bemge.
Com a saída do BBV da disputa, perde-se a chance de ter mais um banco estrangeiro de porte entre os grandes bancos de varejo nacionais. De outro lado, se o Bradesco fechar o negócio, consolidará sua liderança, ameaçada depois que o Itaú comprou o Banerj.
A temporada de fusões e aquisições bancárias, contudo, está longe do fim. Uma participação minoritária importante num grande banco está à venda e vários outros negócios estão sendo pensados ou discutidos.
Apesar da desistência do BBV, o presidente do BC, Gustavo Franco, assegura que nada tem contra a entrada de grandes bancos de varejo estrangeiros no Brasil. "É uma posição de governo", diz. "Queremos competição e isso faz com que, às vezes, ela seja favorável aos bancos estrangeiros, às vezes aos nacionais."
O que levou o BBV a desistir da compra do Meridional foi a cláusula quatro do edital de venda. Ela retira do governo qualquer futura responsabilidade por "insubsistências ativas ou superveniências passivas" que surjam no Meridional. Mesmo em relação ao passado, a responsabilidade está limitada a ações que tenham sido iniciadas antes de 30 de junho de 97 e com um teto de R$ 85 milhões.
Em outros termos, se o comprador encontrar um passivo escondido ou um ativo podre, terá que assumi-lo. É como assinar um cheque em branco. Gustavo Franco concorda que a cláusula é ruim e não faz parte da praxe de negócios bancários. O normal seria abrir-se uma conta gráfica por um ano e fazer o acerto de qualquer contingência que surgisse.
O problema, diz ele, é que a lei da privatização exige a venda pelo preço mínimo. Advogados do governo interpretam que uma compensação posterior poderia ser entendida como uma redução no preço mínimo. Para compensar, o BC está permitindo o uso de moedas podres para pagar o Meridional e fez provisões. Além disso, Franco diz que o Meridional não empresta há tempos, portanto a chance de encontrar ativos podres é pequena.
O BC espera pelo menos três propostas pelo Meridional. Além do Bradesco, o português Caixa Geral de Depósitos e os brasileiros Pactual e Bozano, Simonsen estão qualificados para o leilão.
Franco não comenta, mas é certo que, sem comprar o Meridional, não haverá negócio com o BCN. "É o bilhete de entrada", comentou uma fonte do governo.
O BBV ofereceu ao controlador do BCN, Pedro Conde, US$ 1 bilhão para comprar 58% do capital votante. No ano passado, o banco BBA quase comprou 51% do controle do BCN por pouco mais de US$ 400 milhões. Em 94, outro banco havia feito uma proposta para comprar o BCN por US$ 200 milhões.
Mesmo considerando que o BCN cresceu desde 94, o salto no seu preço é o melhor exemplo dos efeitos da corrida pela liderança no mercado brasileiro. No passado, além do BBA, outros bancos, como o Unibanco e o Pactual, demonstraram interesse pelo BCN.
Resta saber se a saída do BBV e a exigência do pedágio afetarão o preço para o BCN. Sabe-se que Pedro Conde não gostou nada das exigências do BC.
FMI no Brasil
Uma missão rotineira do FMI está no Brasil. Além de conversar com o governo, tem conversado com o setor privado, incluindo alguns bancos. Um ponto de preocupação é o quadro fiscal de 98, especialmente de Estados e municípios. É um bom sinal dos tempos constatar que pouca gente notou a presença da missão.

E-mail: CelPinto@uol.com.br

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