São Paulo, domingo, 26 de outubro de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

El Niño deste ano deverá ser o mais estudado de todos

JOSÉ REIS
ESPECIAL PARA A FOLHA

Uma larga área de calor no Oceano Pacífico equatorial, ao largo da costa sul-americana, há muito prenuncia a aproximação do El Niño, fenômeno que periodicamente toma conta do tempo meteorológico com intervalos variáveis de 2 a 7 anos, podendo todavia sobrevir em vezes seguidas. O El Niño traz consigo grandes perturbações oceânicas e atmosféricas, como deslizamentos de terra, torrenciais chuvas, furacões, entremeados com desmoronamentos e períodos de muita seca na Austrália e Indonésia.
A área quente do Pacífico progride e durante muito tempo não foi considerada pelos climatologistas, que nela viam apenas um fenômeno local. Hoje eles a consideram como parte do El Niño, que é um processo global.
A julgar pelo comportamento da mancha térmica e pela quantidade de calor que é despejado no oceano, aumentando em até 3,5°C a temperatura da superfície, os especialistas estão calculando que o El Niño deste ano (1997-1998) talvez venha a ser o maior do século, superando o até agora maior, o de 1982-1983 que matou cerca de 2.000 pessoas.
Este ano, para compensar os tempos anteriores de descrença quanto à importância da mancha, os climatologistas estão montando na costa do Peru uma completa aparelhagem para coleta de dados e seu registro e apuração por potentes computadores. Assim, o El Niño deste ano, que poderá se estender até boa parte do ano seguinte, será também o mais bem estudado.
O El Niño abrange enorme extensão oceânica e, ao lado dos desastres que causa, traz bonança e clima ameno em certos lugares privilegiados. O El Niño chega ao seu máximo no Peru, influindo na forte indústria pesqueira ali localizada.
À época de seu aparecimento naquelas bandas (Natal) inspirou aos pescadores o nome de El Niño, que para eles significa Menino Jesus. Numa outra fase reversiva do ciclo, surgem correntes de água fria, que formam La Niña, também chamada de El Viejo.
A reconhecida abrangência do El Niño, muito maior do que se pensava, levou os climatologistas a criar novo conceito, o Enso (El Niño Sul Oscilação).
O El Niño começa com a chegada dos ventos alísios do leste e atravessa o Pacífico tropical. Esses ventos puxam as águas superficiais e provocam diferença de 60 cm entre a altura dessas águas na Indonésia e na América do Sul. Os ventos absorvem umidade ao passar pelo oceano e depois deixam essa água cair como chuva mais adiante. A água superficial se move para oeste e a certa altura se bifurca, o que causa a subida de água fria. Essa água fria que sobe é regalo do plâncton, que se alimenta com os nutrientes que ela traz.
Dentro da área abrangida por El Niño se formam muitas interconexões, que explicam secas em lugares tão distintos como o Nordeste brasileiro, sul da África etc., enquanto outros lugares, como Cuba e Califórnia ,têm chuvas torrenciais.

Texto Anterior: CIÊNCIA COGNITIVA; COSMOLOGIA
Próximo Texto: Computador falante
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.