São Paulo, domingo, 26 de outubro de 1997
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Garotas percorrem os cantos do Brasil

DA REPORTAGEM LOCAL

Elas percorreram 51.000 km, mais que uma volta em torno da Terra (40.000 km). Em 296 dias, viajaram literalmente por todos os cantos do país, indo dos pampas gaúchos à floresta amazônica, passando pelas praias do Nordeste.
Essa é só uma amostra da aventura de três garotas que resolveram trocar faculdade, trabalho e família para rodar sete horas por dia em um carro abarrotado de bagagem, enfrentando algumas vezes estradas alagadas e atoleiros.
Tudo começou em junho de 95, quando as universitárias paulistas Mariana Pimenta, 22, Flávia Renault de Paula e Silva, 25, e Alessandra Pasquale Silveira Peixoto, 25, decidiram que, após já terem morado no exterior, havia chegado o momento de saber como "é a verdadeira cara do Brasil".
Após seis meses de planejamento, inclusive com o roteiro todo definido, as três foram atrás do patrocínio para o que elas chamaram Projeto Contorno.
A verba total de US$ 230 mil incluía do carro às roupas, do equipamento fotográfico aos pedágios.
O carro, um importado Impreza SW 4x4, acabou sendo cedido pela Subaru, que cuidou também de todo o serviço de assistência técnica por meio de suas 28 autorizadas distribuídas pelo país.
A escolha pelo Impreza, em lugar de modelo tipo jipão, deveu-se à tração nas quatro rodas e ao conforto. "Além disso, as três já estavam acostumadas com carros de passeios", explica Flávia.
Seguiu-se um ano de preparativos, que compreendia uma série de pequenos cursos e treinamentos, como primeiros socorros, fotografia, mecânica de automóveis, mergulho e até meteorologia.
Partiram em 3 de dezembro de 96 para um roteiro que seguia os limites do território nacional, indo pelos contornos do país, e voltaram a São Paulo, dez meses depois.
Flávia sustenta que a principal dificuldade que elas enfrentaram foi o constante preconceito com relação às mulheres no volante.
"Os homens sempre desencorajavam, dizendo que uma mulher nunca ia conseguir passar naquela estrada ruim", completa Mariana.
Um dos momentos mais tensos foi a travessia de balsa que ia de Belém (PA) a Macapá (AP), que durou 36 horas. Havia um só banheiro para cerca de 20 pessoas, quase todos homens e caminhoneiros. "Além de nós, só havia uma prostituta", conta Flávia. "Mas, no final, nós viramos até amigas dos caminhoneiros."
Já no interior do Rio Grande do Norte, a história foi diferente. "Dois homens meio bêbados perseguiram a gente. Tivemos que fugir deles, escondendo o carro num posto de gasolina", diz Alessandra.
No final das contas, as três dizem que o que mais valeu a pena foram os amigos que fizeram pelo Brasil inteiro. Da viagem, elas também trouxeram muitas lembranças, cerca de 13 mil fotos e algumas insistentes dores na costas, resultado de dormir em redes ou camas ruins e dirigir horas a fio em estradas esburacadas ou sem asfalto.
Elas agora querem lançar, até o ano que vem, dois livros, um de fotos e outro com o relato da aventura. E já pensam na próxima viagem, que será na Ásia ou África.
O que levar
Para sobreviver a uma viagem dessas, alguns itens são essenciais, como um conjunto completo de ferramentas, peças sobressalentes, malas rígidas para proteger equipamento fotográfico e de vídeo e estojo de primeiros socorros.
Um transformador de 220 V para 110 V ajuda a recarregar à noite telefone celular, filmadora e laptop (computador portátil).
Sacos de dormir foram bem-vindos na hora de dormir acampadas na barraca, dentro do carro ou em pensões baratas.
Servindo como um rastreador a longa distância, as meninas contaram ainda com um grande aliado, o sistema de navegação Omnisat.
Por ele, uma central em São Paulo podia saber exatamente onde estava o carro e passar as informações em caso de se perderem. O Ominsat permite ainda mandar e receber mensagens escritas, como se fosse uma espécie de fax móvel. Seu preço é avaliado em R$ 11 mil.

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