São Paulo, segunda-feira, 27 de outubro de 1997
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Batida põe imagem de alemão em xeque

DO ENVIADO A JEREZ

Michael Schumacher sempre carregou a pecha de arrogante. Dois anos de Ferrari e algumas atuações brilhantes, porém, estavam mudando sua imagem na F-1.
Ontem, no entanto, colocou tudo a perder depois de abalroar o Williams de Jacques Villeneuve.
Apesar disso, o alemão não perdeu a fleuma. E negou veementemente que tenha cometido um erro no GP da Europa.
"Erro? Eu? De modo algum", respondeu aos jornalistas que esperaram cerca de duas horas para ouvir o piloto da Ferrari.
Antes de atender a mídia, Schumacher só saiu do "motorhome" do time italiano para ser interrogado pelos comissários de prova, que também chamaram Villeneuve.
Apesar das promessas dos dirigentes da F-1 de que qualquer bobagem na disputa pelo título seria severamente punida, nada aconteceu com o piloto alemão.
Segundo comunicado emitido às 17h40 locais (14h40 de Brasília), o acidente foi considerado apenas um "incidente de corrida", sem a necessidade de ações punitivas.
Foi assim que Schumacher e Bernie Ecclestone, o "dono da categoria", classificaram o episódio.
Ecclestone ponderou, porém, que estava "triste" pelo fato de o Mundial ter sido decidido dessa forma. Falou após passar 15 minutos a sós com o piloto da Ferrari.
Pouco antes do encontro, Frank Williams fizera visita de cortesia às instalações da equipe inimiga.
Foi cumprimentado por Schumacher, Jean Todt e pelo próprio Ecclestone, que lá se encontrava.
"Não falamos sobre a corrida", disse Schumacher sobre seu diálogo particular com o todo-poderoso presidente da Foca, a associação de construtores.
Surpresa
O alemão disse ter ficado surpreso com a tentativa de ultrapassagem naquele momento da corrida.
"Sabia que ele iria tentar me passar em algum momento. Ele não tinha nada a perder. Mas a verdade é que, se eu não estivesse ali, ele teria ido direto para a grama", declarou Schumacher.
Pela versão do alemão, Villeneuve teria usado sua Ferrari para frear. O rival só teria alcançado posição para ultrapassagem por ter freado tarde demais.
"Freei no meu limite máximo, e ele, mais tarde ainda. Ele usou o meu carro para segurar o dele."
Schumacher afirmou que tinha confiança no título e que estava fazendo uma boa corrida até o acidente. "Já tive dias mais felizes na minha vida. Por outro lado, isso é o automobilismo. Existem momentos bons e ruins", filosofou.
Schumacher negou que estivesse tendo problemas naquele momento e que, por isso, Villeneuve se aproximou. "Meu carro estava excelente. Sabia que teria problemas de pneus no final da prova e por isso resolvi poupá-los."
"De qualquer forma, temos razões suficientes para estarmos contentes como a performance demonstrada pela Ferrari nesta temporada. Na minha opinião, somos o time número um na Fórmula 1. A Ferrari pode se orgulhar disso."
A apologia também serviu para os fanáticos torcedores italianos. "Quero dizer 'grazie' (obrigado, em italiano) pelo apoio que recebi neste ano. Espero contar com ele no futuro também."
O futuro, para Schumacher, é promissor. Acredita que a Ferrari pode completar o desenvolvimento de um carro competitivo para 98. "Assim, começaríamos a ganhar corridas no começo do campeonato, ao contrário do que aconteceu neste ano."
Schumacher fala com confiança, mas ainda não sabe dos reflexos que sua atitude de ontem poderá ter em sua carreira.
Talvez fosse melhor ter feito o que seu empresário, Willi Weber, sugeriu após a prova. "Ele foi muito honesto. Se era para fechar a porta, deveria ter feito direito."

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