São Paulo, segunda-feira, 27 de outubro de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Raimundos tiram forró e ganham peso

MARCELO NEGROMONTE
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Eles abandonaram a Madonna parada no jardim, desistiram de ser o assento de bicicleta que absorve suores, já viram o oco, esporraram na manivela. Agora, partem para a porrada pura.
Harcore até a medula, os Raimundos lançam "Lapadas do Povo", quarto disco do quarteto candango, uma massa de som compacta, sem incursões nordestinas explícitas, guitarras preenchendo os espaços vazios e uma bateria forte marcando pesado.
Produzido por Mark Dearnley, que já trabalhou com Black Sabbath e AC/DC, "Lapadas do Povo" é, segundo a banda, "Raimundos em caldo, espremido".
"Não abandonamos o forró. Esse disco está mais raízes. O hardcore que a gente sempre fez agora está mais gritante", disse Canisso, baixista.
"Desde o começo deixamos bem claro que nós somos uma banda de rock'n'roll, mas a linha de vocal tem aquela métrica do repente. Não dá para fugir, está no gene", afirmou Fred, baterista.
Apenas um triângulo, em "Baile Funky", faz lembrar o passado forró do grupo.
Essa é a música mais longa, quatro minutos, e a mais "politizada" do disco. "A Justiça não me olha porque é cega/Mas o meu dinheiro ela enxerga", diz um dos trechos. "É na Igreja que o povo esvazia os bolsos", diz outra parte da música, que tem guitarra wha-wha, lembrando a de "Bulls on Parade", do Rage Against the Machine.
Saem as letras de duplo (ou único) sentido, o que, segundo o grupo, é um sinal de evolução e amadurecimento. "Nós já fizemos isso no primeiro disco, três anos atrás. Chega, está na hora de buscar novos caminhos", disse Canisso.
"Pequena Raimunda" (cuja rima é óbvia), versão de "Ramona", dos Ramones, é a única em que a fase adolescente do grupo fica mais evidente. "Essa música a gente já tinha antes do primeiro disco", afirmou Fred, baterista.
Espontâneo
"Lapadas do Povo" é o disco mais espontâneo dos Raimundos. "Nunca pensamos: 'Vamos parar com isso (forrócore)'. Chegamos e fizemos do jeito que saiu", disse Rodolfo, vocalista.
O tempo entre a gravação e o lançamento, determinado pelo próprio grupo, foi o maior motivo da "pressão" sofrida por eles para fazer o disco.
"Isso deu espontaneidade, ficou a cara da banda. Mas no final ficou meio apertado", disse Canisso.
Além dos Ramones, Elvis Costello, por sugestão do produtor, está presente no disco em uma cover de "Oliver's Army", com mais guitarras, mas mantendo o "roquenrol" do ex-punk.
Gravado em Los Angeles ("por falta de horário em estúdios daqui"), o disco traz músicas tão velozes quanto as do Ratos do Porão, como "Véio, Manco e Gordo" e "Crumis Ódamis", ambas com menos de dois minutos.
Na primeira, "um alerta contra a ociosidade", Rodolfo dispara 248 palavras em exato um minuto.
Por falta de tempo, a última música, "Bass Hell", ficou sem letra. "Levaram a prova antes de terminarmos", disse Canisso.
A música, com elementos de rap, funciona como um "chill out" depois de tanta lapada na orelha.

Disco: Lapadas do Povo
Banda: Raimundos
Lançamento: Warner
Quanto: R$ 18, em média

Texto Anterior: Saiba os filmes de hoje da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo
Próximo Texto: Grupo quer ir a Brasília
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.