São Paulo, terça-feira, 28 de outubro de 1997
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O recado do vizinho

JANIO DE FREITAS

A derrota espetacular do esquema político de Carlos Menem, prenunciando outra derrota nas futuras eleições presidenciais argentinas, não lança efeitos diretos sobre a candidatura de Fernando Henrique Cardoso, mas robustece muito, com o exemplo vitorioso da aliança de centro e esquerda, os defensores brasileiros de uma aliança semelhante para enfrentar o esquema da reeleição.
Daí não se pode inferir, ao menos por ora, que o êxito da tese traga benefícios pessoais, sejam para Ciro Gomes, Itamar Franco, José Sarney ou qualquer outro proponente de uma aliança em torno do seu próprio nome. Nenhum deles venceu ainda as dificuldades anteriores a uma aliança, e aqui não são poucas. Mas o resultado argentino projetou sobre a linha restritiva do PT, comum à direção e à oposição interna do partido, um obstáculo a mais -o do exemplo vizinho em tantos sentidos- para ser enfrentado pelos precários argumentos petistas.
Por coincidência bem sugestiva, enquanto era comemorada a vitória da aliança de centro-esquerda contra Menem, os notáveis do PT reuniam-se, ontem, com o propósito de dar um empurrão na gaguejante candidatura de Luiz Inácio da Silva. E mesmo na chapa Lula-Brizola, uma das criações mais originais da perplexidade petista-pedetista.
O problema de Lula, reconhecido por todos, é a inaceitação radical ao seu nome por grande parte do eleitorado, formada com contribuições de todas as classes socioeconômicas. A menos que demonstrada a insuficiência numérica desses opositores para derrotá-la, a candidatura de Lula, admitindo-se alguma lógica em política, procuraria perfurar as restrições com o auxílio de um vice bem aceito nas áreas difíceis.
Brizola, porém, nada pode acrescentar à candidatura de Lula. Desde que o próprio Brizola não seja candidato à Presidência, quem é brizolista já é eleitor natural de Lula em disputa com Fernando Henrique; quem não é, não votará em Lula só por Brizola (também possível candidato a senador pelo Estado do Rio, nesse caso Brizola é considerado, até por seu adversário Cesar Maia, imbatível).
A derrota de Menem diz muita coisa. Mas não é certo que as mais importantes sejam bastante importantes para penetrar nos interesses grupais, quase todos medíocres, que enfraquecem a oposição, ou a esquerda, ou a "esquerda" no Brasil.

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