São Paulo, terça-feira, 28 de outubro de 1997
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País não tem depósito de lixo radioativo

ANDRÉ LOZANO
DO ENVIADO ESPECIAL A GOIÂNIA

Dez anos após o acidente radioativo com uma cápsula de césio-137 em Goiânia, o Brasil continua sem depósitos definitivos para receber lixo atômico variado, com exceção de um construído exclusivamente para armazenar os dejetos do material contaminado em Goiânia.
Em setembro de 87, uma cápsula de césio foi retirada do Instituto Goiano de Radioterapia (IGR) por dois catadores de papel. A peça foi rompida a marretadas e vendida a um ferro-velho. A radiação provocou a morte de quatro pessoas e lesões corporais em pelo menos 16. Mais de 200 pessoas, no entanto, teriam sido expostas à radiação.
Esse foi o maior acidente radiológico do mundo, segundo o físico José de Júlio Rozental, que era o coordenador do departamento de instalações nucleares da CNEN (Comissão Nacional de Energia Nuclear) na época.
Ele participou ontem da Conferência Internacional sobre o Acidente Radiológico de Goiânia - Dez Anos Depois. O evento termina na próxima sexta, em Goiânia.
Segundo o físico, atualmente não há no país depósitos definitivos de rejeitos radioativos ou nucleares variados. O lixo nuclear proveniente das áreas médica, industrial ou de pesquisa fica provisoriamente armazenado no Ipen (Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares), em São Paulo.
Todos os rejeitos nucleares dos reatores das usinas de Angra, por exemplo, permanecem na própria usina, aguardando transferência para um futuro depósito definitivo, disse Rozental.
Segundo Ana Maria Xavier, da CNEN, Angra 1 produz 200 m³ de lixo atômico por ano. Outros 500 m³ são produzidos em outras áreas do país.
O Repositório de Goiânia, primeiro depósito de lixo radioativo do país, inaugurado em julho, ainda não é o exemplo de local de armazenamento definitivo desse tipo de material. Foi criado especificamente para o caso do césio-137.
Nesse depósito, instalado na cidade de Abadia de Goiás, a 20 km de Goiânia, estão guardados 3.400 m³ ou 6.000 toneladas de rejeitos radioativos do acidente.
Segundo o gerente do distrito de Goiânia da CNEN, Paulo Rabello, Abadia, com 5.000 habitantes, ganhou asfalto, melhoria do sistema de telefonia, rodoviária e hospital com a instalação do depósito.
Já o secretário do Meio Ambiente da cidade, Adaflor do Nascimento, diz que as indústrias não querem mais se instalar no local. O fornecimento de produtos agrícolas de Abadia para Goiânia caiu. Ele reivindica ao governo federal R$ 300 mil mensais para sanear o "transtorno" que o depósito causou.

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