São Paulo, quarta-feira, 29 de outubro de 1997
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Governo de SP não descarta adiar leilão de venda da CPFL

CLÁUDIA TREVISAN
DA REPORTAGEM LOCAL

O secretário de Energia de São Paulo, David Zylbersztajn, disse ontem que o leilão da CPFL (Companhia Paulista de Força e Luz) está mantido para o dia 5 de novembro, mas não descartou o seu adiamento caso persista a turbulência no mercado de ações.
Alertou, porém, que essa possibilidade é remota: "Tem de haver argumentos muito fortes para o adiamento". Ele acrescentou que considera prudente aguardar até o final da semana para "ver como as coisas evoluem".
O leilão da CPFL será o primeiro teste do programa de privatizações depois do abalo das Bolsas em todo o mundo.
Alguns analistas ouvidos pela Folha acreditam que o governo deveria adiar o leilão caso a crise persista. "Se o mercado não sinalizar para uma alta consistente amanhã (hoje), acredito que seria conveniente um pequeno atraso", afirmou o economista-chefe do Lloyds Bank, Odair Abate.
"Se a quadro não mudar até sexta-feira, o leilão deveria ser cancelado", disse Rubens Cavalieri, diretor-adjunto da área de privatização do Citibank.
Preço
Na opinião de analistas do mercado, se a crise não for superada, a principal consequência sobre as privatizações será a queda no preço pago pelas estatais.
A redução do ágio seria provocada pela maior dificuldade de obtenção de financiamento no mercado externo pelos interessados nas privatizações. O efeito imediato seria a redução do preço que elas poderiam pagar.
Essa dificuldade de financiamento seria provocada por dois fatores conjugados: 1) redução da liquidez, ou do volume de recursos disponíveis no mercado internacional e 2) aumento do risco Brasil, com consequente elevação do custo de empréstimos destinados a investimentos no país.
"A tendência é a redução do preço em função da dificuldade de financiamento", afirmou Fábio Pinheiro, responsável pela área de fusões e aquisições do Banco Pactual.
Paulo de Sá, diretor de renda variável do Lloyds Bank, concorda: "Se a crise nas Bolsas resultar em redução de liquidez, haverá queda no preço".
Isabel Bresser, analista do setor elétrico da Fator Corretora, acredita que pode haver redução do ágio médio no leilão da CPFL em relação à expectativa do mercado antes à crise. Mas espera que o ágio seja significativo.
Segundo ela, as empresas que realmente estão interessadas na CPFL estudam o negócio há meses e, provavelmente, já definiram formas de financiamento.
Zylbersztajn prefere apontar possível efeito positivo da crise sobre as privatizações: o aumento do interesse dos investidores. "Muita gente tirou dinheiro das Bolsas e está em busca de lugares seguros para colocar o dinheiro."
Uma das opções seria a privatização brasileira. Mas ele não nega que pode haver a dificuldade de financiamento apontada pelos analistas. "Não sei qual dos movimentos é mais significativo e duvido que alguém saiba."

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