São Paulo, quarta-feira, 29 de outubro de 1997
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Saiba como funcionam as Bolsas

Como funcionam
. O que é
Bolsa de Valores é o lugar mantido por corretores para centralizar a compra e venda de ações de empresas
. Empresas em papel
Ações são papéis que representam parte do capital de uma empresa. Quando alguém compra ou vende uma ação, está negociando, na realidade, um "pedaço" de uma empresa
. Os tipos
Ordinárias - Dão direito a voto nas assembléias de acionistas da empresa
Preferenciais - Têm prioridade no recebimento de dividendos, mas não dão direito a voto
. Lucros e dividendos
Como sócio de uma empresa, o dono de uma ação tem direito a receber parte dos lucros obtidos por ela. São os chamados dividendos

Como se forma o preço das ações
. Valorização
Em situações ideais, as ações são vendidas de acordo com a expectativa de lucro da empresa. Quando se espera um lucro grande, as ações passam a valer mais, por dois motivos: o dono pode receber esse lucro em dinheiro (dividendos) ou a empresa pode incorporá-lo ao seu patrimônio, o que significa que a porcentagem da empresa que o dono da ação possui passa a valer mais
. Oscilações
Situações econômicas favoráveis (crescimento da economia e inflação baixa) tendem a puxar o preço da ações para cima, uma vez que a expectativa de lucro na média das empresas também é favorável. Em períodos de recessão, as empresas tendem a ter prejuízo, o que puxa o preço das ações para baixo
. Índices
Os índices utilizados para medir o desempenho das Bolsas de Valores costumam representar um resultado médio de um grupo selecionado de ações. O Ibovespa, da Bolsa de São Paulo, reúne o valor de venda das 51 ações mais negociadas no mercado

O que influencia as Bolsas no Brasil
. Contas externas
A situação das contas externas no Brasil também influencia o preço das ações. O país se tornou um dos centros de investimento mundial, atraiu muitos dólares e tem déficit em suas transações com o exterior. Isso significa que o país teria dificuldades em converter em dólares os dinheiro investido nas Bolsas
. Investidores estrangeiros
As ações estavam subindo no Brasil porque era grande a presença de investidores estrangeiros nas Bolsas do país. Com a crise nos mercados asiáticos, esses investidores agora vendem as ações. Como todo mundo quer vender, mas pouca gente quer comprar, o preço despenca. É a lei da oferta e da procura
. Riscos
O grande perigo que o Brasil corre é que os investidores estrangeiros deixem de acreditar que o governo é capaz de manter a atual política cambial, ou seja, de desvalorizações leves e graduais do real. Se isso ocorrer, os estrangeiros mandam muito dinheiro para fora e o governo brasileiro é obrigado a "queimar" suas reservas externas
. Saída
Para evitar essa "queima", o país poderia recorrer a uma grande desvalorização do real em relação ao dólar. Assim, teria de gastar uma parte menor das reservas para pagar os investidores que querem deixar o país

Como o mercado entra em crise
- Investidores buscam rentabilidade
. O capital não tem pátria, em especial o financeiro. Ele escolhe os países em que vai investir a partir de dois vetores: rentabilidade e segurança. Os mercados da Ásia e da América Latina transformaram-se em centros de investimentos em Bolsas e títulos dos governos (dívida interna) graças à perspectiva de ganhos com a privatização e às altas taxas de juros
. Os especuladores escolhem os países e convertem suas moedas fortes (dólar, em geral) em moeda local (o real, no Brasil). Em moeda local, eles compram ações na Bolsa ou títulos de renda fixa

- Começa o ataque especulativo
. O ataque especulativo começa quando um investidor (ou um grupo de investidores) percebe que a economia do país-alvo não é capaz de arcar com a remuneração que têm atraído o capital. Isso pode acontecer, por exemplo, quando o país apresenta resultados negativos nas contas externas, o que pode levar à desvalorização da moeda local
. O investidor começa então a vender ações e títulos. Com o dinheiro obtido, passa a usar a moeda para comprar uma grande quantidade de dólares. O aumento pela demanda de dólares valoriza a moeda estrangeira, o que pode levar a uma desvalorização da moeda local (o caso da Tailândia) ou o aumento da taxa de juros (Hong Kong)
. Com medo da desvalorização de suas ações, que são negociadas na moeda local, outros investidores correm para vendê-las. Essa corrida aumenta ainda mais a demanda por moeda forte

- A crise se espalha pelos mercados
. A notícia se espalha. Investidores de outros países "emergentes" temem ataques especulativos fora do lugar em que começou a crise, e buscam vender também suas ações. Nos países desenvolvidos, as ações das multinacionais instaladas nos países "emergentes" também caem
. Um investidor demora dois dias para receber o dinheiro de ações vendidas na Bolsa de São Paulo. Se realizou a venda ontem, pode comprar dólares hoje para pagar amanhã. Amanhã mesmo, o dólar pode ser remetido eletronicamente para o exterior
. Especuladores que fazem operações no mercado futuro podem ganhar com a crise. O investidor compra US$ 1,00 a R$ 1,10, por exemplo, porque acredita que estará valendo R$ 1,30 daqui a uma semana. Se isso ocorrer, ele ganha R$ 0,20 por dólar
. Com a crise nas regiões "emergentes", a tendência do capital financeiro é voltar a ser investido em títulos públicos nos países desenvolvidos. A segurança para o dinheiro aplicado é maior, embora o rendimento seja menor

Os governos locais reagem
. O governo local tem de gastar suas reservas em moedas fortes para converter em dólares o dinheiro em mãos dos investidores que querem fazer remessas para o exterior. Se elas não forem suficientes, o governo é obrigado a desvalorizar a moeda local em relação ao dólar
. Uma maneira que o governo pode encontrar para manter o investidor estrangeiro no país é aumentando os juros que servem de referência para as aplicações em moeda local. O inconveniente disso é que aumenta a dívida interna e o rombo nas contas públicas. Foi o que o Brasil fez, em 95, após a crise do México

O horário de funcionamento das principais Bolsas no mundo
Convertido ao horário de Brasília
Nova York: 12h30 - 19h
São Paulo: 12h - 18h
Londres: 6h - 14h30
Hong Kong: 23h30 - 5h45
Tóquio: 21h30 - 4h

O dinheiro que entra*
24% Estrangeiros
Boa parte do fôlego das Bolsas brasileiras veio das aplicações de fundos e investidores estrangeiros, que buscam mercados emergentes para lucrar mais. Nos últimos meses eles se retraíram

41% Instituições Financeiras
Administrados por bancos e corretoras, os fundos captam dinheiro do grande público. A partir de R$ 500 uma pessoa pode participar do mercado de ações adquirindo cotas de fundos

21% Investidores institucionais
Os principais são os fundos de pensão de estatais, que investem os recursos em ações, títulos públicos, imóveis etc. Seguradoras e bancos também aplicam parte de suas reservas na Bolsa

10% Investidor individual
Quem tem muito dinheiro para investir também monta carteira própria de ações por intermédio de corretoras ou bancos (private banking). Hoje é difícil um só investidor manipular o mercado, como no passado

O dinheiro que sai
O dinheiro dos estrangeiros está sempre saindo e entrando na Bolsa. Nos últimos meses, cresceram as saídas. No primeiro semestre, o saldo líquido ainda foi positivo em R$ 1,4 bilhão

Quando o cotista de um fundo de ações tradicional ou carteira livre quer dinheiro na mão, ordena o resgate de cotas. O fundo, para fazer dinheiro, tem de vender ações

Investidores institucionais (fundos de pensão etc.) também vendem ações para cobrir despesas (aposentadorias etc.), se reenquadrar nos limites legais ou realocar sua carteira de investimentos

Da mesma forma que um cotista de fundo, o investidor individual também pode ordenar a venda de ações para ter dinheiro vivo na mão e cobrir alguma despesa ou destiná-lo para aplicações de renda fixa (juros)

- Personagens
. Operador de pregão
É o profissional que representa as corretoras, aquele que efetivamente fecha os negócios, no chamado pregão "viva voz", ou seja, gritando ofertas de compra ou de venda. Cada roda de operadores negocia uma ação. Pelo aparelho, recebe instruções das corretoras: até que preço pode ir, quantas ações deve negociar. Também abastece as corretoras com informações

. Analistas
Fundamentalistas
Olham basicamente para o balanço da empresa, para quesitos como rentabilidade, lucro, fatia do mercado, concorrência etc. Procuram ainda levar em conta a situação e as perspectivas do setor em que a empresa atua e também as condições macroeconômicas e políticas

Grafistas
O principal instrumento usado por esses profissionais são os gráficos que mostram a evolução de uma determinada ação num determinado período, que pode variar de um dia a alguns anos. Os principais gráficos usados são o de preço e de volume negociado

- Tipos de investidores
. Pequeno
Entra no mercado por meio dos fundos de renda variável administrados por bancos ou corretoras. Mas também podem investir em papéis específicos, usando uma corretora como intermediária. Nos últimos meses, muitos entraram na Bolsa, aumentando a demanda e inflando os preços

. Especulador
Com bagagem na área, o especulador costuma entrar no jogo com bala para gastar, ou seja, com um saldo bancário capaz de absorver prejuízos, adiando a hora da saída até que a maré vire a seu favor. Aproveita as oscilações, no curto prazo. Pode lucrar quando uma ação sobe, mas também quando cai

. Institucional
São investidores de peso, os que possuem volumosos recursos e aplicam com regularidade. Como mantêm um fluxo relativamente constante de investimentos, com perspectivas de longo prazo, são as aplicações que eles fazem que dão segurança e liquidez ao mercado

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