São Paulo, quinta-feira, 30 de outubro de 1997
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Greenspan e Clinton

NELSON DE SÁ
DA REPORTAGEM LOCAL

O ritual dos estandartes, dos figurinos da independência americana, dos desfiles estava em seu início, nos jardins da Casa Branca.
Bill Clinton estava para falar. De súbito, outro personagem, mais relevante do que o presidente dos Estados Unidos, roubou a cena.
O protagonista real Alan Greenspan, o presidente do banco central americano, atropelou a cena dos líderes da China e dos EUA.
O âncora da CNN, Bernard Shaw, introduziu as duas imagens, que passaram a dividir a tela, ao vivo. Na menor estava Greenspan.
Mas não é possível dividir o áudio. E nele Greenspan venceu. Foi a sua voz que se ouviu, com os hinos ao fundo, em volume baixo.
Era um depoimento no Congresso americano. O presidente do banco central discorria sobre a crise nas bolsas do mundo, o que era certamente de maior interesse.
Clinton ainda foi mantido na tela por algum tempo, mas quando abriu seu discurso, ele não era ouvido. O líder do mundo movia os lábios, sorria e não era ouvido.
A CNN tinha que cortar, sumir com aquela imagem de ridículo. E foi o que fez. Greenspan ocupou toda a tela, deixando Clinton como que falando sozinho.
E o presidente do banco central é mau ator. Fala burocraticamente, olhos no papel. Pousa uma mão sobre a outra. Não dá um sorriso. Pigarreia, quando muito.
Por 20 minutos foi assim. O virar de páginas, os óculos espessos, o terno escuro. A ausência de espetáculo.
Mas era ele, no flagrante, o poder no mundo. Não o show de Bill Clinton.
Quando Greenspan terminou o discurso, Bernard Shaw desculpou-se dizendo que "todo mundo estava ouvindo Greenspan" e tratou de reapresentar Clinton.
Que, pobre dele, não teve tempo na transmissão para duas falas inteiras.

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