São Paulo, quinta-feira, 30 de outubro de 1997
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Especialização precoce é contra-indicada

DA REDAÇÃO

Na última quinta, a série "Entreviste os profissionais", promovida pelo Fovest 98, trouxe para debate quatro profissionais de odontologia.
Estiveram presentes o coordenador da área de implantes do Núcleo de Apoio à Pesquisa em Materiais Dentários da Faculdade de Odontologia da USP, Pedro Carvalho dos Santos, a professora de traumatologia bucomaxilofacial da Faculdade de Odontologia da Unesp de Araraquara, Marisa Gabrielli, o coordenador da área clínica da Faculdade de Odontologia de Piracicaba da Unicamp, Antonio Fernando Martorelli de Lima, e o professor-titular de ortodontia da Faculdade de Odontologia da PUC-Campinas, Mário Vedovello Filho, com mediação de Célia Almudena (coordenadora do Fovest 98). Abaixo, os melhores momentos do encontro.
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Laís Fonseca, 17 - Como está o mercado, saturado ou não?
Antonio - Há uns dez anos a profissão era totalmente liberal. Você tinha a sua atividade profissional pautada pelo seu interesse. Hoje é diferente. Existem algumas empresas prestadoras de serviço que exploram os profissionais, às vezes não remunerando muito bem, tirando a espontaneidade que a profissão tinha. Apesar disso, acho que o mercado ainda é capaz de absorver muita gente, principalmente na área do combate à cárie e aos outros problemas odontológicos, que é um mercado bem conduzido para os próximos anos.
Mário - Hoje existem determinados locais onde há falta de profissionais, e outros onde há excesso. Nós não podemos ficar sempre nos grandes centros. Existem locais no interior de São Paulo onde existe demanda. Ou seja, há necessidade de bons profissionais com a interiorização.
Regina Lima, 18 - Hoje é mais fácil montar um consultório próprio ou trabalhar em clínicas coletivas ou de plano de saúde?
Mário - Montar uma clínica com vários especialistas é positivo tanto no aspecto econômico, porque você distribui as despesas, quanto no aspecto da motivação. Trabalhando com especialistas de diferentes áreas, chega um momento em que todos sentam-se, discutem os problemas e evoluem. Há um intercâmbio de informações. Participar de convênio também pode ser um caminho, mas o profissional não pode virar escravo, recebendo salários aviltantes.
Fabio Alvarez, 19 - A tendência atual é a especialização?
Pedro - Acho que hoje em dia estão transformando a odontologia em uma coisa muito segmentada, prematuramente. O aluno entra na faculdade já pensando em fazer ortodontia, implante, periodontia. Ele nem conhece a profissão direito, quanto mais a especialidade. Hoje existe um grande campo para o clínico-geral. Não sou contra a especialização, mas contra a especialização prematura. O profissional precisa primeiro ver a odontologia de uma forma integral.
Erica Kondo - Quais são as principais dificuldades que um dentista recém-formado encontra logo no início de sua carreira? Quanto custa montar um consultório?
Pedro - O problema mais imediato que vejo é a falta de pacientes. Além disso, quando você estiver sozinho e vir o primeiro paciente, você terá insegurança: "Será que estou indo pelo caminho certo?".
Marisa - A forma como a odontologia tem caminhado, em que você precisa até de computador para realizar os trabalhos, faz com que a construção de um consultório não saia por menos de R$ 15 mil a R$ 20 mil.
Milena Bertanha - Quais as melhores faculdades particulares de São Paulo?
Antonio - Não sei, mas existem algumas que são um tremendo furo, porque não oferecem a mínima condição de absorver ensinamento e o treinamento básico para você exercer a profissão. Acredito que, se você se frustrar no vestibular da faculdade que você escolheu, é melhor investir um pouco mais e tentar de novo, do que optar por uma mais fácil e acabar perdendo tempo e dinheiro, não recebendo a formação adequada.
Fabio Alvarez, 19 - Qual o motivo das mensalidades elevadas dos cursos de odontologia?
Antonio - Na Unicamp nós temos um levantamento de que a formação de um dentista gira em torno de R$ 8 mil a R$ 12 mil por ano. É caro. E aí entram o atendimento, o material de consumo, as instalações adequadas. Mas há muita faculdade que está mesmo visando o lucro da instituição.

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