São Paulo, quinta-feira, 30 de outubro de 1997
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Bailarino se torna trapezista em "Rota"

ANA FRANCISCA PONZIO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Depois de mostrar bailarinos dançando sobre um plano vertical em "Velox", a coreógrafa carioca Deborah Colker volta a desafiar a ação da gravidade em seu novo espetáculo, "Rota", que estréia hoje em São Paulo.
Se em "Velox", de 96, os bailarinos se movimentavam como alpinistas, agora o elenco soma habilidades de trapezistas para se mover em uma roda-gigante de oito metros de altura, projetada pelo cenógrafo Gringo Cardia.
"Meu maior interesse é pesquisar o movimento", diz Colker. Apesar das críticas nem sempre favoráveis, a coreógrafa tornou-se, nos últimos dois anos, a campeã de bilheterias da dança brasileira.
Lançado em julho, em Curitiba, "Rota" já fez temporadas em Porto Alegre, Florianópolis, Londrina e Rio, onde lotou o teatro Carlos Gomes durante cinco semanas.
Para Colker, o sucesso de público não é novidade. O mesmo ocorreu com "Velox", que atraiu milhares de espectadores.
Quem achava que o poder de comunicação de Colker e seus bailarinos era um fenômeno brasileiro deu a mão à palmatória: em setembro passado, ao participar da Bienal da Dança de Lyon, na França, o grupo recebeu igual ovação e ainda conquistou críticos exigentes, que se encantaram com a dança atlética do elenco.
Ex-jogadora da seleção carioca de vôlei, Colker reconhece que os esportes têm influência sobre sua dança. "Fui uma boa atleta. Talvez o mais importante que trago do esporte para a dança seja essa coisa explosiva, esse jogo de ação e reação que faz o público vibrar junto com os atletas. Componentes como o desafio, a disciplina, o vigor, além de certa obsessão pela falta de limites também são características do mundo esportivo que transportei para a dança."
No entanto, na trajetória de Colker, a experiência esportiva se somou a uma sólida formação em dança e música.
Bem antes de fundar o grupo atual, que estreou em 1994 com o espetáculo "Vulcão", ela foi pianista e integrou o grupo Coringa, que já foi uma das mais importantes companhias de dança moderna do Rio de Janeiro.
"O que faço é resultado de uma mistura de conhecimentos. Me irrita a idéia de acharem que nasci da noite para o dia. Lido com dança há 19 anos e considero ignorantes os que relacionam minhas coreografias à ginástica. Rótulos não servem para nada, e dar nomes, depois do pós-modernismo, ficou complicado", defende-se Colker.
Aos que apontam apelos de marketing em seu trabalho, ela ainda rebate: "Que marketing? Ensaio sete horas por dia, e se há uma palavra que deve ser associada ao meu nome é trabalho. Busco a criatividade, mas também a qualidade. Além de coreógrafa, sou diretora exigente, cuido da companhia como um todo, até os convites têm que ter acabamento profissional."
Para mostrar que suas produções não valorizam só a cultura pop, Colker salienta que "Rota" estabelece uma ligação definitiva com o balé clássico.
"Hoje, a técnica clássica é fundamental para mim. Está cada vez mais presente e mais completa em minhas coreografias. Só que procuro me apoderar dos recursos do balé clássico da maneira mais criativa e contemporânea possível."
Segundo Colker, a aliança com o clássico começa a ficar mais nítida também em seu elenco heterogêneo, que inclui especialistas em danças de rua como Jefferson Antonio, ex-campeão de break.
Disposta a considerar a tradição, Deborah enfatiza que Paula Bastos, mais nova integrante de seu grupo, vem do Ballet do Teatro Municipal do Rio.

Espetáculo: Rota, de Deborah Colker
Quando: de hoje a 30 de novembro (quinta a sábado, às 21h; domingo, às 18h) Onde: teatro Sérgio Cardoso (rua Rui Barbosa, 153, tel. 011/251-5122)
Quanto: R$ 20 (ingressos a domicílio: Statione, tel. 011/5589-8201; Cia. dos Ingressos, tel. 011/883-0370)

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