São Paulo, quinta-feira, 30 de outubro de 1997
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ONU interrompe desarme no Iraque

Saddam expulsa americanos

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

A Organização das Nações Unidas (ONU) suspendeu ontem suas operações de desarmamento no Iraque. O anúncio foi feito após decisão do presidente iraquiano, Saddam Hussein, de proibir a entrada no país de inspetores da ONU de nacionalidade norte-americana.
"A medida iraquiana é inaceitável", disse Ann Luzzato, porta-voz da Casa Branca. "É um ataque aos fundamentos do sistema da ONU e pode ter consequências potencialmente graves", completou James Rubin, porta-voz do Departamento de Estado dos EUA.
Saddam deu o prazo de uma semana para que os americanos que estão no Iraque deixem o país. A Comissão Especial de Desarmamento da ONU conta com 100 observadores estrangeiros no país. Dez dos 40 inspetores de armas são americanos.
Horas antes da decisão iraquiana, os EUA advertiram o Iraque de que não deveria violar as resoluções da ONU, adotadas depois da Guerra do Golfo (1991), que exigem a destruição de seu arsenal de foguetes de longo alcance, armas químicas, biológicas e componentes de armas nucleares.
O Conselho de Segurança (CS) da ONU adotou essas resoluções depois que o Iraque invadiu o Kuait, o que desencadeou a Guerra do Golfo. Sustenta que as sanções econômicas que têm sido impostas ao país só serão atenuadas após o desarmamento.
Os 15 membros do CS fizeram uma reunião em caráter de urgência ontem à tarde, em Nova York, com a intenção de lançar uma séria advertência ao Iraque para que reconsidere sua posição.
Um porta-voz do Conselho do Comando da Revolução (CCR), órgão político máximo iraquiano, disse que pedirá também à ONU que deixe de utilizar aeronaves dos EUA no monitoramento do espaço aéreo da região.
"Esta decisão será válida até o momento em que os EUA reconsiderem sua política injusta e agressiva contra nosso povo, e parem com a espionagem e a ingerência nos assuntos internos do país", proclamou o CCR.
O australiano Richard Butler, diretor-executivo da Comissão Especial da ONU, explicou a suspensão das inspeções. "Não estou disposto a continuar ouvindo o Iraque falar quem pode e quem não pode trabalhar no país. Hoje é os EUA. E amanhã? O Reino Unido? Isto está errado."
Butler destacou que os funcionários da missão são escolhidos pela sua capacidade e não por nacionalidade. Disse ainda que a comissão sempre provou imparcialidade no desempenho de suas atividades.
O chanceler iraquiano, Tarek Aziz, enviou uma carta ao CS da ONU, expondo os motivos que levaram seu governo a expulsar os americanos. Disse que a Comissão Especial já trabalha há seis anos e meio no seu país, tendo destruído todas as armas proibidas, assim como dezenas de fábricas e outros equipamentos.
A decisão, segundo a carta de Aziz, entraria em vigor à 1h00 (horário de Nova York) de hoje. "Pedimos que todas as pessoas de nacionalidade americana que participem de inspeções, entrevistas e vigilância aérea e terrestre saiam do Iraque no prazo de sete dias."
Especialistas dos meios diplomáticos citados pela agência "France Presse" consideram que o presidente Saddam Hussein tenta criar uma divisão entre os integrantes do Conselho de Segurança. Rússia, França e China se mostram mais favoráveis ao Iraque do que Estados Unidos e Reino Unido.

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