São Paulo, sexta-feira, 31 de outubro de 1997
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Entenda o que é um ataque especulativo

GUSTAVO PATÚ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O ponto-chave para o Brasil diante da crise mundial das Bolsas de Valores é: a insegurança generalizada dos investidores pode precipitar um ataque especulativo contra o real?
Um ataque especulativo significa que um conjunto de investidores, a partir das informações em seu poder, decide que apostar na desvalorização da moeda de um país será um bom negócio.
Exemplo fictício (mas baseado em fatos passados): avalia-se que o real está sobrevalorizado em relação ao dólar, o que gera problemas para a economia brasileira; que o Banco Central não conseguirá sustentar essa situação; e logo, que o dólar subirá no Brasil.
Nesse caso, começa um movimento maciço de compras de dólar no Brasil.
Pela lei da oferta e da procura, esse comportamento pressionará as cotações do dólar para cima, porque em breve os bancos não terão mais dólar para vender. Atuação do BC
É aí que entra o Banco Central. O procedimento clássico, nessas situações, é vender dólar -para evitar a escassez da divisa no mercado e a consequente alta nas cotações- e elevar os juros, estimulando investidores a buscar outros tipos de aplicação.
Começa uma queda-de-braço entre o mercado e o Banco Central. Se acreditam que o BC não poderá vender dólares ou manter os juros elevados por muito tempo, os investidores continuam apostando na compra da moeda norte-americana.
Na visão de quem aplica no mercado, todo esse procedimento poderia ser explicado de outro ângulo: os investidores sentiram-se inseguros quanto à estabilidade da moeda brasileira e buscaram dólares para se proteger.
Questão de interpretação
Seja qual for a explicação para o fenômeno, o início ou não de um ataque especulativo está condicionado à interpretação que os investidores fazem dos dados referentes à economia de um país.
Veja o Brasil pelo seguinte lado: o país tem atualmente altas reservas em dólar (na casa dos US$ 60 bilhões), controlou a inflação, está atraindo muitos investimentos externos, procura fazer reformas e está conseguindo reduzir seu déficit público.
Agora veja por outro: as reservas do BC são formadas por capital de curto prazo (que podem deixar o país a qualquer momento), os investimentos podem se retrair com a crise mundial, o déficit comercial está muito alto, as reformas não andam e as contas públicas continuam ruins.
As duas visões estão corretas, e a escolha entre elas depende do humor dos investidores.
Voltando à pergunta inicial, a questão é saber se a crise das Bolsas afetará esse humor.

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