São Paulo, sexta-feira, 31 de outubro de 1997
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BC da Argentina gasta US$ 700 mi para manter a paridade da moeda

LEO GERCHMANN
DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

O Banco Central da Argentina já gastou cerca de US$ 700 milhões para evitar uma desvalorização da moeda argentina desde o início da crise financeira dos mercados acionários no mundo.
Analistas e empresários argentinos estão confiantes que a autoridade monetária do país irá resistir a ataques especulativos contra a moeda local.
Desde o início da crise, a Bolsa de Buenos Aires acumula uma desvalorização de aproximadamente 20% e as taxas de juros subiram de 6% para 10%.
A maioria dos analistas afirma que os operadores da Bolsa argentina superestimam a situação vivida pelo Brasil, no que se refere a uma possível desvalorização acentuada do Real.
O chefe de gabinete do governo argentino, Jorge Rodríguez, afirmou ontem que o governo acredita na solidez da economia e que esta é preparada para enfrentar a crise surgida nas Bolsas.
Rodríguez elogiou a atuação do Banco Central argentino, cujas reservas de moeda forte cobrem 100% da base monetária.
Segundo o mercado, o governo argentino está disposto a bancar a atual taxa de câmbio.
A Argentina tem mais de 30% de suas exportações direcionadas ao Brasil e acompanha o desenrolar da crise na Bolsa brasileira, segundo Claudio Sebastiani, presidente da União Industrial Argentina.
Preocupação
O presidente da Bolsa de Valores de Buenos Aires, Julio Macchi, disse ontem admitir que o país poderá entrar em recessão se houver a continuação da queda nos índices Merval. "O impacto pode significar algum tipo de recessão e pode significar algum tipo de diminuição nas relações comerciais".
A Bolsa de Buenos Aires, depois de ter baixado 13,7% na segunda-feira e subido 6,05% na terça-feira, voltou a cair anteontem e ontem, chegando ontem a 9,33% de baixa.
Segundo Macchi, a situação de baixa nos índices brasileiros, devido à vinculação existente com a economia argentina, está estabelecendo "uma das crises mais sérias ou talvez a mais séria crise dos últimos tempos".
Na avaliação do presidente da Bolsa, que considera a economia argentina sólida o suficiente para reagir a quedas na Bolsa, o momento é mais sério do que a crise provocada pelo "efeito tequila" . "É uma região que tem impacto em um mercado muito grande", afirmou ele.
"Se os políticos assumem a responsabilidade e se dão conta de que estamos diante de uma séria crise, decidem aprovar imediatamente o orçamento. Se não fizerem isso, os investidores podem observar debilidades e buscar lugares mais seguros e tranquilos", disse Macchi, que nos últimos dias vinha falando na possibilidade de, superada a crise, a Argentina mostrar mais solidez do que outros países e, com isso, sair em vantagem em relação à concorrência.
Macchi revelou que "o Banco Central argentino tem feito assistências financeiras" em problemas de liquidez. "Nós temos um sistema de conversão no qual não se pode criar moeda artificial".
Até ontem, o presidente da Bolsa de Buenos Aires dizia que, com o desempenho do mercado nos últimos dias, provavelmente os números não voltariam a cair de forma tão preocupante como o ocorrido ontem.

Colaborou Léo Gerchmann, de Buenos Aires

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