São Paulo, sábado, 1 de novembro de 1997
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FAB se opõe a exploração de Alcântara pela Boeing

RUI NOGUEIRA, RENATA GIRALDI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A Aeronáutica não aceita entregar para exploração comercial o Centro de Lançamento de Alcântara (CLA), no Maranhão. A empresa norte-americana Boeing sondou as autoridades brasileiras para saber do interesse em arrendar, num contrato de longo prazo (pelo menos três décadas), a base de lançamento de foguetes.
A resposta negativa, dada de maneira oficiosa à consulta também oficiosa, foi explicitada publicamente pelo brigadeiro Frederico de Queiroz Veiga, vice-chefe do Estado-Maior da Aeronáutica.
"Não há o interesse de entregar Alcântara a uma empresa que queira tomar conta daquilo sozinha", disse Veiga no seminário "A Indústria e a Defesa Nacional".
Segundo o brigadeiro, "existem propostas no sentido de uma empresa de fora ficar lá por 20 ou 30 anos". A Folha apurou que uma das interessadas era a Boeing.
O vice-chefe do Estado-Maior admitiu "uma parceria" em que Aeronáutica e centros de pesquisa que participam do programa espacial brasileiro mantenham "o poder de mando dentro do campo".
Agora, a Boeing negocia com a Infraero (Empresa Brasileira de Infra-estrutura Aeroportuária) apenas a concessão de uso de uma das áreas localizadas no setor industrial do centro de lançamento. China, Rússia e uma empresa alemã também mantêm negociações com a Infraero.
A concessão de uso dessas áreas pode render, segundo cálculos da Infraero, cerca de US$ 1 bilhão por ano, o mesmo que a empresa fatura hoje com a administração e operação de 67 aeroportos e 114 estações de auxílio à navegação aérea.
A Infraero foi autorizada a explorar comercialmente o CLA e a desenvolver o aeroporto do centro em convênio assinado com a Aeronáutica em dezembro de 96.
O Centro de Lançamento de Alcântara tem uma área de 620 km2 e é considerado um ponto privilegiado -próximo ao equador, baixa densidade populacional e acesso fácil por terra, ar e mar. Isso, segundo especialistas, pode baixar o custo de lançamento em até 30%.
A exploração comercial de Alcântara será definida com mais clareza quando for aprovado o Plano Diretor do CLA. O plano deve prever a parceria que existe hoje nos aeroportos: empresas que utilizam um mesmo aeroporto fazem investimentos conjuntos de infra-estrutura para reduzir custos.
Prejuízo
O primeiro foguete de fabricação 100% brasileira, o VLS, com um satélite também brasileiro a bordo, deve ser lançado até dia 10.
A primeira tentativa foi abortada por falha no sistema de radar. Peças foram importadas da França, e a previsão é que nova tentativa seja feita até 10 de novembro.
Se a subida não acontecer nesse prazo, a Aeronáutica terá um prejuízo de pelo menos R$ 500 mil. O foguete terá de ser desmontado, pois as 41 toneladas de combustível sólido não podem ficar muito tempo na posição vertical.(RN)

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