São Paulo, sábado, 1 de novembro de 1997
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Esquerda petista acha que crise favorece a candidatura de Lula

CARLOS EDUARDO ALVES
DA REPORTAGEM LOCAL

O crash das Bolsas torna uma exigência o que até agora é a possível candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva à Presidência da República, entende a "esquerda" do PT.
"Lamentavelmente, nossa chance aumentou devido à crise e é Lula que tem a marca de combate incisivo ao modelo atual", afirmou o deputado federal Milton Temer (PT-RJ), um dos líderes do setor radical do partido.
Lula, que está na Alemanha, hesita em dar o sim à candidatura. Para Temer, a alta dos juros provocará uma "tremenda recessão", com óbvios prejuízos para o palanque governista em 98.
"Só Lula é o símbolo do projeto alternativo ao atual, que tem uma política monetarista dependente do fluxo externo do capital especulativo", acha o líder da "esquerda" petista.
Temer quer, na eventual campanha presidencial de Lula, a defesa do modelo que não gera grandes divergências entre petistas, a não ser topicamente: valorização do mercado de consumo interno como fonte geradora da poupança nacional.
A análise pragmática do ônus causado ao governo federal pela crise também fez Válter Pomar, um dos vice-presidentes do PT, a insistir numa definição de Lula pela candidatura.
"A crise reforça mais as condições de Lula ser candidato até por retirar o argumento de que ela nasceria marcada para perder", acha Pomar, um dos líderes do setor ortodoxo do petismo.
No cenário vislumbrado por Pomar, "setores amplos" do empresariado tendem agora a apostar numa terceira via na corrida ao Planalto, casos das eventuais candidaturas de Ciro Gomes (PPS) ou Itamar Franco (PMDB), o que forçaria um segundo turno que incluiria Lula e Fernando Henrique Cardoso. "Está claro agora que haverá um segundo turno", declarou.
Tarso
Eventual substituto de Lula na candidatura petista, Tarso Genro tem uma análise menos trágica sobre as consequências do crash das Bolsas. Genro, que é um dos formuladores petistas que se debruçam mais tempo na crítica ao chamado "capital volátil", acha que não haverá "débâcle".
"O sistema financeiro internacional vai colaborar para segurar a fantasia atual até a eleição presidencial", afirmou o ex-prefeito de Porto Alegre.
No PT, Genro pertence à ala moderada. Ele atribuiu a crise atual a um ataque especulativo a economias estrangeiras, mas ressalvou que a perda brasileira de reservas gerada pelo episódio revelou uma incapacidade nacional para conter uma verdadeira investida contra a moeda.
Genro discordou da associação que o setor mais à "esquerda" de seu partido fez entre juros e inevitabilidade da candidatura Lula. "O quadro de agora só reforça que a discussão não se dará em cima de fenômenos, mas de projetos para o país"'.
Quércia
A direção do PT paulista emitiu nota em que nega que tenha discutido com Orestes Quércia (PMDB) a possibilidade de uma aliança na eleição estadual de 98.

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