São Paulo, sábado, 1 de novembro de 1997 |
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A estética espaço/tempo
RUY OHTAKE
O espaço é a cidade, metrópole dinâmica e contraditória. Seus encantos foram feitos e vividos. Há mais a construir. Com sensibilidade e justiça. O tempo é a trajetória do século 20: a chaminé com seus 28 mil tijolos a simbolizar o limiar do século, também o início do processo de industrialização; e o cilindro de aço, com suas três toneladas e meia de chapas calandradas a sinalizar o final do século e a perspectiva para o próximo. O tubo inflável aponta uma tênue trajetória e a colorida caminhada pelo tempo. O projeto ousa a fusão do conceito; a movimentação urbana de hoje com a vida fabril do começo do século, e vice-versa: a chaminé a se refletir para a avenida. Fundem-se as imagens provocadas pelo movimento rotatório do triângulo espelhado. Uma volta a cada minuto. Um minuto de fusão, 60 vezes por hora. Mas diferentemente. Segundo o amanhecer ou o entardecer. De acordo com o sol ou a nuvem. Sendo domingo ou segunda; o movimento de carros. Sem dúvida, o desenho de arquitetura, com linguagem de instalação, procura sintetizar e materializar o conceito. É uma proposta estética. Provocadora no local. O lugar escolhido é instigante. Nessa região de São Paulo há três eixos paralelos e próximos: o dos trens pela linha férrea e o das águas pelo rio Tietê canalizado. Com certeza, o Arte/Cidade escolheu a linha férrea porque foi a mais inteligente das três intervenções. O homem estrangulou o rio com uma canalização equivocada, causando grosseiro erro urbanístico. O traçado da avenida Matarazzo confirma o óbvio e o escassamente criativo. A linha férrea, o mais antigo desses eixos, acena para o próximo século com o expressivo espaço de 18 quilômetros. Pede proposta urbanística integrada e arrojada. Revitalizando a linha da Lapa ao Brás e à Mooca, cruzando o Jardim da Luz e o largo da Concórdia. Recuperando variados galpões que escondem sutis encantos. Reorganizando logradouros do entorno para a vida atuante. Uma São Paulo do século 21, renovada das entranhas da urbis que sofreu o caótico inchaço do século 20. É assim que percebo o desafio do Arte/Cidade 3, e por isso participo com entusiasmo de arquiteto e esperança de cidadão. O arquiteto Ruy Ohtake participa do Arte/Cidade 3. Texto Anterior: Riquinhos se fingem de modernos no Arte/Cidade Próximo Texto: Amok, mercados, auto-regulamentação Índice |
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