São Paulo, sábado, 1 de novembro de 1997
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Senhores do domingo

CARLOS HEITOR CONY

Rio de Janeiro - É sempre numa segunda-feira. Meados dos anos 70, o país estava em clima de guerra. Nada ideológico, nenhum pânico na Bolsa, os tempos eram de repressão e a TV divertia a plebe, anestesiando-a o suficiente para que não berrasse por liberdade.
Mesmo assim, houve problema. Chacrinha na TV Globo e Flávio Cavalcanti na TV Tupi brigavam pela liderança dos domingos -tal como hoje brigam o Faustão e Gugu. Não havia o apelo sexual -os tempos tendiam a ser castos, ao menos em veículos que resguardavam as famílias da subversão e do deboche.
No domingo anterior, depois de anunciados duelos em que valeria tudo, Chacrinha veio com um tal de 7 da Lira (ou nome parecido). Flávio apelou para o maravilhoso, trazendo um travesseiro que, diante das câmaras, ia ficando cheio de cabelos, era um milagre e um mistério.
O governo irritou-se e puniu as duas emissoras, não me lembro se tirando as duas do ar por algumas horas ou estabelecendo outro tipo de sanção. Evidente que, tal como os guris que são surpreendidos pela mãe se masturbando no banheiro, a Globo e a Tupi prometeram "não fazer mais".
Acho até que houve suspensões. Tanto Flávio como Chacrinha ficaram semanas fora do ar, não estou lembrado. O fato é que, depois do escândalo, e punidas, as duas emissoras prometeram elevar o nível da programação dominical. Como sempre acontece, uma delas tacou uma entrevista com o cardeal no domingo seguinte.
Chacrinha e Flávio já não mais pertencem ao nosso mundo. A Tupi desapareceu, mas a briga pela audiência continua. Não me emocionei com o 7 da Lira nem com o travesseiro cheio de cabelos. Tampouco me deliciei com as suculentas mulheres que apareceram no último domingo.
Mas daqui a algum tempo, estarei vigilante como o deputado homônimo, alerta como um escoteiro, para ver no que vai dar o próximo duelo entre os senhores do domingo. Desconfio que será interessante. Já estou salivando.

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