São Paulo, domingo, 2 de novembro de 1997
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Deputados derrotados retaliam eleitorado

LUCIO VAZ
OSWALDO BUARIM JR.

LUCIO VAZ; OSWALDO BUARIM JR.
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Parlamentares que disputaram prefeituras e não foram eleitos reduzem destinação de verbas a seus redutos

As emendas individuais ao Orçamento da União são usadas tanto para atrair votos como para vingar maus resultados nas eleições.
Deputados derrotados nas eleições municipais do ano passado reduziram drasticamente as verbas para seus redutos eleitorais.
A Folha fez um cruzamento do mapa de votação dos deputados nas eleições de 1994 com as emendas apresentadas aos orçamentos de 96 e de 98. O mapa mostra que os deputados concentram suas emendas nos seus redutos eleitorais.
Muitos deputados que concorreram às eleições municipais de 96 destinaram grandes volumes de recursos para suas cidades naquele ano. Pelo menos 12 deles foram eleitos. A maioria dos derrotados esqueceu seus eleitores neste ano.
A maior parte das emendas pulveriza recursos do Orçamento para obras de interesse restrito. Este ano, bateu recorde a destinação de verbas para a construção de quadras e ginásios poliesportivos: R$ 56 milhões.
Se todas as emendas forem aprovadas, representarão quase três vezes os R$ 19,4 milhões que Instituto de Desenvolvimento do Desporto deverá distribuir às Secretarias de Esporte de todos os Estados e do Distrito Federal para apoio ao esporte amador.
Novas prioridades
O deputado Pedro Canedo (PL-GO) destinou R$ 620 mil para Anápolis em 96, quando foi candidato a prefeito. Perdeu e, de olho na eleição para deputado em 98, foi procurar outra freguesia.
Para o ano que vem, Canedo quer reforçar o caixa das prefeituras de Caldas Novas e Nova Glória, onde teve poucos votos na eleição para a Câmara em 94.
"Priorizei prefeituras que têm um prefeito com quem vou trabalhar a partir de agora", diz Canedo. O deputado diz que não se vingou de Anápolis, que neste ano brindou com uma só emenda de R$ 200 mil "Encaminhei para todos os municípios que votaram em mim ou onde tenho prefeitos", disse.
O deputado Albérico Cordeiro (PTB-AL) destinou R$ 3,29 milhões para Maceió em 96, quando foi candidato a prefeito. Ficou em terceiro lugar na disputa. Neste ano, apresentou emendas no valor de R$ 270 mil para o município. Destinou R$ 430 mil para Palmeira dos Índios.
Cordeiro disse nem havia percebido a radical mudança: "Foi até bom você me chamar a atenção. Eu não tinha percebido".
"Não tem a ver"
O deputado Cunha Lima (PPB-SP), candidato a prefeito de Carapicuíba em 94, apresentou emendas no valor de R$ 1,38 milhão para a cidade naquele ano. Perdeu a eleição. Neste ano, apresentou apenas uma emenda, no valor de R$ 100 mil.
"Isso não tem a ver com o fato de ter perdido a eleição. O problema é que a prefeitura tem dívidas antigas e não pode receber recursos da União", disse Lima. Em 94, porém, ele apresentou as emendas mesmo sabendo que a prefeitura já tinha essas dívidas.
Os casos opostos são raros, mas existem. O deputado Alexandre Cardoso (PSB-RJ) apresentou emendas no valor de R$ 970 mil para obras de saneamento em Duque de Caxias em 94, ano em que disputou a prefeitura.
Ele perdeu a eleição, mas não esqueceu a cidade neste ano. Chegou a destinar R$ 7,75 milhões para obras na cidade, quando o limite por deputado é de R$ 1,5 milhão. Alertado pelo relator, reduziu o valor das emendas, mas Duque de Caxias ficou com a fatia maior: R$ 1,05 milhão.
Concentração
O cruzamento das emendas com o mapa de votação de 94 revela que os deputados tendem a concentrar emendas para os municípios onde obtiveram mais votos.
O deputado Fernando Gonçalves (PTB-RJ) teve 28.743 dos seus 37.714 votos em Nova Iguaçu em 94. Nas emendas deste ano, destinou toda a sua cota de R$ 1,5 milhão para a cidade.
O mesmo aconteceu com o deputado João Fassarela (PT-MG), que descarregou a sua cota de emendas em Governador Valadares, onde teve 15.863 dos 20.721 votos obtidos em 94.
O deputado Ursicino Queiroz (PFL-BA), ex-prefeito de Santo Antônio de Jesus, estourou a cota e destinou R$ 10,4 milhões para sua cidade. Orientado pelo relator do Orçamento, acabou retirando a emenda de R$ 10 milhões destinada à conclusão do hospital regional do município.

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