São Paulo, domingo, 2 de novembro de 1997
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Francês previa fim do Brasil

LARISSA PURVINNI
DA REDAÇÃO

Se a previsão feita em 1873 pelo conde de Gobineau estivesse correta, a população brasileira estaria extinta no ano 2143.
A projeção foi feita no artigo "L'Émigration au Bresil", publicado em uma revista francesa, que apresentava o Brasil como novo destino para a imigração européia.
A causa do fim da população brasileira, descrita por Gobineau como "toda mulata, com sangue viciado, espírito viciado e feia de meter medo", era uma só: a mistura de raças.
Diz o autor de "Ensaio sobre a Desigualdade das Raças Humanas": "A grande maioria da população brasileira é mestiça e resulta de mesclagens contraídas entre os índios, os negros e um pequeno número de portugueses. Todos os países da América (...) hoje mostram, incontestavelmente, que os mulatos de distintos matizes não se reproduzem além de um número limitado de gerações."
Diplomata que chefiou a missão francesa no Brasil de abril de 1869 a maio de 1870 e amigo de Dom Pedro 2º, Gobineau foi um dos principais teóricos do racismo dito científico. Descreveu as chamadas raças da humanidade e elaborou uma teoria sobre suas desigualdades "naturais".
O discurso racista serviria de legitimação "científica" do colonialismo europeu, cujo império fundamentava-se na pretensa superioridade biológica da raça branca e, depois, inspiraria as teses de Adolf Hitler.
No Brasil, o argumento justificou o financiamento da imigração européia após a libertação dos escravos. Alguns teóricos acreditavam que essa era a maneira de branquear o povo.
No artigo, Gobineau calcula que o Brasil tinha, naquela época, 9 milhões de "almas". Afirma que, 30 anos antes, o país tinha 1 milhão de habitantes a mais. Faz um cálculo de probabilidades e chega à conclusão que, com a mistura de raças, o povo brasileiro estaria aniquilado em mais 270 anos.
Errou feio. Um século e 24 anos depois, segundo o IBGE, o Brasil tem 152.374.603 de habitantes.

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