São Paulo, domingo, 2 de novembro de 1997
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Aposentadoria

RODRIGO BUENO

Dois astros do futebol anunciaram, de maneiras muito distintas, o final de suas carreiras.
Em Milão, Baresi protagonizou uma festa que reuniu celebridades do esporte. Foi ovacionado por mais de 60 mil fanáticos no estádio San Siro.
Em Buenos Aires, Maradona disse adeus em meio a escândalos de doping e da inverídica morte de seu pai. Não tinha ao seu lado nenhum dos 65 mil torcedores que acompanharam a vitória do Boca sobre o River no Campeonato Argentino.
Ambos foram brilhantes, mas Maradona foi mais genial. Os dois serão eternos, mas Baresi saiu de "cabeça mais erguida".
Entre os vários erros de Maradona, tão decantados pela imprensa, o maior é não ter escolhido a melhor hora de parar.
Mais que qualquer outro profissional, o jogador de futebol tem obsessão com a aposentadoria, afinal a carreira é curta. É preciso ganhar muito para não passar aperto após os 35.
Mas essa nunca foi a preocupação de Maradona. O "Menino de Ouro" logo cedo soube contar milhões de dólares.
Seu desafio, como o de todo grande ídolo, é preservar a imagem, manter o mito intacto.
Quando Pelé mais se distingue de Maradona? Quando jovem virou fenômeno, quando assombrou o mundo no auge ou quando pendurou as chuteiras sob as glórias do tri mundial?
Maradona cumpriu à risca as duas primeiras opções. Pecou na terceira, não porque só ganhou uma Copa (poderia ter levantado quatro: 78, se fosse convocado, 86, ganhou, 90, se não fosse um pênalti duvidoso, e 94, se seguisse jogando), mas porque se esqueceu do fim.
Senna teve a aposentadoria abreviada, mas imaculou seu nome. Michael Jordan deixou o basquete como herói, mas soube como voltar e virar deus.
Maradona, assim como esses, está na lista dos grandes, mas, infelizmente, também está no rol dos atletas que viveram na despedida o lance mais difícil.

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