São Paulo, domingo, 2 de novembro de 1997
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'Tudo ou Nada' ri de fraqueza masculina

Comédia inglesa despe metalúrgicos

DENISE BOBADILHA
ESPECIAL PARA A FOLHA, EM LONDRES

Guarde bem esse nome: Robert Carlyle. O escocês conhecido no Brasil por interpretar o vilão Begbie em "Trainspotting" (1996) e protagonizar a série "Hamish Macbeth" (exibida pelo Eurochannel da TVA) é o maior nome do cinema britânico nos últimos anos.
Carlyle é o protagonista de "Ou Tudo ou Nada" (The Full Monty, Inglaterra, 1997), um dos filmes mais bem votados pelo público da Mostra e que, por isso, será exibido hoje no Cinesesc. A produção é também a maior bilheteria do cinema britânico da história.
"Ou Tudo ou Nada" faz por merecer seu sucesso. Estréia do diretor Peter Cattaneo, conta como um grupo de desempregados da outrora próspera Sheffield, "a cidade do aço", decide fazer striptease masculino para ganhar a vida.
A idéia parte de Gaz (Carlyle), que precisa de dinheiro para conseguir ter de volta o filho, que mora com a ex-mulher. O garoto, nota-se desde o início, é mais maduro que o pai.
Gaz se encontra todo dia com um grupo de amigos à procura de emprego numa repartição pública. Entre eles está Gerald (Tom Wilkinson), um senhor engravatado que não tem coragem de contar à esposa que foi demitido seis meses atrás, e Dave (Mark Addy), casado e sem filhos, que acha que ser gordo pode destruir seu casamento.
Ao grupo se juntam Horse (Paul Barber), senhor negro e que sofre secretamente de impotência sexual; o nerd magrelo Lomper (Steve Huison), burro demais para levar adiante seus planos de suicídio; e Guy (Hugo Speer), todo músculos e nenhum neurônio.
Como é que esses seis homens, nada atraentes nem talentosos, sem estima, machões por natureza (com apenas uma exceção, todos eram operários de siderúrgicas) e com problemas até o pescoço por causa do desemprego decidem se despir para ganhar a vida?
Pior: de todo o grupo, só os dois mais velhos sabem dançar. Sensualidade está fora do baralho. Nem dinheiro para comprar o uniforme de policiais que desejam usar na perfomance eles têm.
É nisso que está a graça do filme. Em diálogos hilários, ao som da disco dos anos 70, os seis fracassados vão se despindo um ao outro, sem querer, ao revelarem suas fraquezas cotidianas.
No início, não conseguem nem tirar uma camisa com medo de ofender a própria masculinidade. Mas já estão nus, interiormente, quando decidem partir para o "tudo ou nada", "a coisa toda" do título original.
Tem como ferramenta o humor sem pastelão, que agrada a homens e mulheres (e também homossexuais, numa bela jogada do roteiro) em igual medida.
Sem Hollywood
Carlyle é o ator do ano na Inglaterra. Depois de "Trainspotting" (quem é que não tem verdadeiro ódio do seu personagem e não confunde ator e papel ao ver o filme?), ele protagonizou "Uma Canção para Carla" ("Carla's Song", Ken Loach, 96) e, simultaneamente a "Ou Tudo ou Nada", o thriller "Face", uma espécie de "Cães de Aluguel" da ilha.
"Face" tem o cantor Damon Albarn, líder do grupo Blur, num pequeno papel. É dirigido por Antonia Bird, que já havia trabalhado com Carlyle no polêmico "O Padre", no qual ele interpreta o amante do protagonista.
Natural de Glasgow, Escócia, onde foi pintor de paredes e sindicalista, Carlyle diz que não se sente atraído pelo cinema norte-americano, do qual já recebeu inúmeros convites. Tem preferido trabalhar com seus conterrâneos e exercitar toda a naturalidade que mostra em seus papéis.

Onde: Cinesesc, hoje, às 18h

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