São Paulo, domingo, 2 de novembro de 1997
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O CRASH DA GLOBO

RENATO FRANZINI; MARIANA SCALZO; ANNA LEE
FREE-LANCE PARA A FOLHA

As recentes derrotas da Globo para o SBT, no ibope das tardes de domingo, refletem uma tendência de queda de audiência da emissora líder que já dura pelo menos nove anos.
Levantamento feito pela Folha, a partir de dados do Ibope na Grande São Paulo, mostra queda de até 45% na audiência do horário nobre da Globo -o "4sanduíche" no qual o "Jornal Nacional" serve de recheio para as novelas das sete e das oito.
O resultado de 1997 foi calculado a partir das audiências de janeiro a setembro -último dado fechado pelo Ibope-, mês em que a novela "Zazá" registrou só 31 pontos.
"Os três programas apresentam tendência clara de queda. Mas a pior situação é a do 'Jornal Nacional'", diz a professora de estatística da USP Clélia Toloi, 43, que fez uma análise a pedido da Folha.
Segundo a professora, a tendência de queda do "JN" é constante, enquanto que a das novelas "dá saltos" de acordo com a qualidade da trama.
Pelos seus cálculos, o "JN" tende a perder em média 2,58 pontos no Ibope por ano, a novela das sete, 2,38, e a das oito, 1,55.
Se isso acontecer, a novela das sete chegará ao ano 2000 com menos de 30 pontos de audiência.
"Mas minha análise é com base em um número pequeno de dados. Pode não se concretizar."
Quem levou
A audiência perdida pela Globo se distribui entre vários canais e, mais recentemente, parte dela foi absorvida pela TV paga.
"A tendência natural de um mercado segmentado é que novos programas roubem audiência do líder. Mas isso não quer dizer que a Globo está piorando. Ainda vale anunciar lá", afirma o publicitário Celso Loducca, 39, sócio da agência Lowe, Loducca.
Os dados do Ibope mostram que, em 89, o SBT dava 8 pontos de audiência na faixa entre 20h e 20h30. Em setembro último, pulou para 15. No mesmo período, a soma de audiência dos outros canais juntos subiu de 5 para 9 pontos.
Na opinião do professor de telejornalismo da USP Laurindo Leal Filho, 52, o número de telespectadores do "JN" caiu porque o noticioso não conseguiu criar uma "aura de credibilidade" desde que foi lançado, em 69. "Se houvesse alternativas reais de concorrência, a queda seria maior ainda", alerta.
Para o sociólogo Muniz Sodré, a queda de audiência da Globo se explica pela saturação da fórmula que a rede usa desde 72, quando conquistou sua hegemonia. "Mercadologicamente, cada época tem uma fórmula que é aceita pela sociedade. A da Globo não está funcionando mais", disse Sodré, que é professor de comunicação social da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro).
A Folha procurou nos dias 28 e 29 -data de fechamento desta edição- executivos da Globo e do SBT para comentar o assunto, mas não obteve resposta.

Colaboraram Mariana Scalzo, da Reportagem Local, e Anna Lee, da Sucursal do Rio

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