São Paulo, segunda-feira, 3 de novembro de 1997
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"Cintos apertados", adverte o BC

JOÃO CARLOS DE OLIVEIRA
EDITOR DO PAINEL S/A

O pior da turbulência do "El Niño" financeiro já passou, "mas o piloto não desligou ainda o aviso que dá a ordem para manter os cintos apertados".
A avaliação, feita no fim-de-semana à Folha, é de um dos pilotos, o diretor de Assuntos Internacionais do Banco Central, Demósthenes Madureira de Pinho Neto.
Nesta semana, disse, ainda, haverá volatilidade nos mercados e movimentos de realização de lucros (venda de ações por exemplo, para fazer dinheiro).
Demósthenes disse que não havia alternativa: o governo foi obrigado a subir as taxas de juros, e que essa possibilidade (confirmada em uma reunião de emergência do Copom, o Comitê de Política Monetária, na quinta) fazia parte de um "cronograma já traçado" para enfrentar a crise.
O Banco Central optou por estabelecer juros elevadíssimos -maiores do que as mais pessimistas estimativas dos bancos-, já que "não podíamos correr o risco de elevar os juros e a medida não se mostrar suficiente".
O diretor do BC fez questão de frisar, porém, que era preciso "agir com firmeza e determinação" e que só foi possível passar a TBC de 1,58% para 3,05% porque "temos absoluta confiança na solidez do sistema financeiro brasileiro".
Volta mais rápida
Indagado se a nova redução dos juros iria manter o ritmo de queda anterior -foram precisos dois anos para que as taxas caíssem para o patamar de 1,58% ao mês-, Demósthenes afirmou que "a volta será mais rápida" e que uma demora de dois anos "está fora de cogitação".
Apesar do tamanho dos juros, para Demósthenes o país não sofreu o que ele chamou de um "ataque especulativo clássico".
O ataque não foi localizado, como no caso mexicano, e não foi precedido, como em todos os demais casos, de uma deterioração dos fundamentos da economia.
"Ao contrário. Nossos fundamentos estão melhorando. A balança comercial (exportações e importações) deste mês está melhor do que o mercado esperava."
O déficit comercial previsto para este mês pelo mercado é da ordem de US$ 1,5 bilhão e vai ficar próximo ou abaixo de US$ 1 bilhão.
O Brasil sofreu mais do que seus vizinhos latinos os efeitos do "El Niño" financeiro porque seus mercados, especialmente de títulos da dívida externa e de ações, são mais líquidos -ou seja, possibilitam movimentos mais rápidos de vendas.
Fuga de capitais
No caso dos títulos da dívida, houve ainda um agravante. A maior parte dos fundos e dos bancos compravam esses títulos usando financiamento de bancos internacionais.
Quando as cotações caíram, os investidores pediram para sacar e, ao mesmo tempo, os bancos internacionais passaram a exigir o pagamento antecipado das linhas de crédito.
Esses dois movimentos acabaram ampliando as quedas e provocando reflexos -já que ficou mais atraente investir lá fora do que aqui dentro, mesmo em papéis brasileiros, o que aumentou a fuga de capitais.
Mesmo assim, diz Demósthenes, "grande parte" dos dólares vendidos pelo BC "não está fora do país, mas na posição comprada pelos bancos". E, espera o BC, serão recomprados com o passar do tempo -sendo reincorporados às reservas internacionais (o caixa do país em moeda forte).
O diretor do BC negou-se a dar números tanto de perdas de reservas quanto do que já foi recomprado. Nos cálculos do mercado, o país perdeu aproximadamente US$ 10 bilhões e já recomprou US$ 3,5 bilhões.

LEIA MAIS sobre a crise nas Bolsas nas págs. 2-5 (coluna de Luís Nassif), 2-6 (papéis avulsos) e 2-8

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