São Paulo, segunda-feira, 3 de novembro de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Corinthians à beira de humilhação histórica

ALBERTO HELENA JR.
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

O lance do gol do Sport, que atirou o Corinthians à beira da maior humilhação de sua história, é exemplar. Nele, o resumo dessa ópera que só não é bufa para o torcedor da Fiel, transformado em personagem de letra de tango: no rebote de uma cobrança de córner alvinegro, Luís Muller pega a bola na sua intermediária, vai, vai, vai, até a entrada da área corintiana, onde se apresentam três alternativas de passe; escolhe Didi, que fuzila Ronaldo.
Por Deus! Onde estão os jogadores do Corinthians? Os beques, logo ali, pregados no chão, como cones de treinamento. O meio, lá atrás, perdido no espaço e no tempo.
Ah, mas tínhamos de atacar porque jogávamos em casa, ameaçados pela assombração do descenso, e, no contragolpe... -lamentariam os mosqueteiros desarmados diante do rei fraco e da rainha amuada, dominados todos pelo olhar diabólico de Richelieu.
Que atacar, se o máximo que o Corinthians conseguiu foram dois chutes de Rincón, lá da intermediária, que o goleiro espalmou pra fora?
O fato é que esse Corinthians está dividido em campo, fora dele, e, sobretudo, está com a alma dividida -no lugar de "um por todos, todos por um", o "salve-se quem puder".
E não se salva ninguém.
*
E o Santos de Luxemburgo? Melhor seria dizer: o Santos de Muller. Ou: o Santos da Vila. Sim, porque basta subir a serra, e esse time, que consegue, às vezes, nos oferecer momentos de êxtase, cai nas profundas da maior depressão.
Anteontem, sem Muller e jogando em Salvador, o Santos não só perdeu de 2 a 0 para o Vitória como nada fez para reverter esse placar.
Por outro lado, vale exaltar a técnica de três jogadores do Vitória, que estiveram no centro da decisão do jogo: o goleiro Nílson, que entrou na maior fria, defendeu um pênalti e saiu de campo recitando salmos bíblicos, o lateral Esquerdinha, hábil e matreiro com aquela perninha esquerda, e o croata Petkovic. Êta nêgo bom de bola esse, hein? Dribla, passa, lança, se mete na área, bate falta e escanteio com invejável precisão. Até parece jogador brasileiro, daqueles que tínhamos antes do êxodo.
*
Que exibição de Rivaldo, na vitória de 3 a 2 do Barça sobre o Real, um clássico de emoções extremas! Não só jogou muito, distribuiu chapéus, lençóis -na verdade, montou um brechó em pleno Santiago Bernabéu-, jogou de meia, de lateral-direito, marcou um gol de pura raça e rara intuição, como ainda por cima deu um exemplo de profissional e dedicação, ao arrastar-se em campo, machucado, até o final.
Essas coisas, o Zagallo vê melhor do que ninguém.
*
O quê? Ganhando de 3 a 1, no Parque, o Palmeiras permite o empate do Goiás? E o técnico reclama do juiz? Me poupe.
A Lusa, pelo menos -jogando no Corinthians e pelo Corinthians-, perdia de 2 a 0 e foi lá buscar o empate. Dizem que são os fantasmas do Parque. Pode ser. Mais provável, porém, é que a Lusa chegou lá em cima antes do tempo.

Texto Anterior: Flamengo se classifica, e Palmeiras está quase lá
Próximo Texto: 1-0-0-0-0-0!
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.