São Paulo, segunda-feira, 3 de novembro de 1997
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Caça-níqueis tilintam até no aeroporto

SUSAN SPANO
DO "TRAVEL/THE NEW YORK TIMES"

Enquanto esperava a chegada das minhas malas no Aeroporto Internacional McCarran, em Las Vegas, eu conversava com três senhoras idosas de Long Island.
"Eu me dou bem no blackjack", disse a primeira.
"Eu prefiro o videopôquer", revelou a segunda.
"Estou aqui para ver os idiotas", vaticinou a terceira.
Já passava da meia-noite, numa terça-feira de setembro. Nosso vôo de Nova York havia partido com duas horas de atraso, e tivemos de esperar mais 30 minutos pela chegada da bagagem em Las Vegas.
Nesse ínterim, na própria área para a retirada de bagagem no aeroporto, máquinas caça-níqueis tilintavam, produzindo sons que mandam mensagens insidiosas para o sistema nervoso.
Por momentos, perguntei-me o que estaria eu fazendo em Las Vegas, cidade famosa pela violência, vícios, pileques e, mais recentemente, pelos cassinos familiares.
Curiosamente, a jactância dos néons me faz lembrar e lamentar o represamento do rio Colorado. Além disso, minha idéia de diversão num cassino é jogar com o dinheiro dos outros.
A fim de voltar
Mas, durante uma viagem de carro pelo sudoeste dos EUA na última primavera, eu abandonei a rodovia para experimentar o bufê de US$ 9,95 do MGM Grand Hotel.
Um casal amigo de Nova Jersey disse que seria um pecado deixar a cidade sem dar uma volta pela via conhecida como Strip.
Então lá fomos nós. Vimos a Estátua da Liberdade no hotel-cassino New York-New York, uma erupção vulcânica no hotel Mirage e um navio pirata sob cerco no hotel Treasure Island -um número surpreendente de atrações para uma caminhada tão curta. Deu vontade de voltar.
Era cética em relação ao jogo. Como todo mundo, sei que as maiores chances sempre estão do lado dos cassinos.
É assim que eles fazem dinheiro, embriagando as pessoas com espetáculos, drinques grátis, bufês em conta e quartos baratos.
Os preços têm subido ultimamente, motivados pela prosperidade econômica e por um boom de construções, que trouxe para o oásis no deserto de Nevada hotéis luxuosos como MGM, Mirage e New York-New York.
Além deles, estão previstas as inaugurações do Venetian e do Bellagio nos próximos dois anos.
Mas, de acordo com o Las Vegas Convention and Visitors Authority, o turista que passa duas noites na cidade gasta, em média, US$ 500 nas mesas de jogos e US$ 230 com acomodação.
Em uma semana de pouco movimento, a competição para manter ocupados os 103 mil apartamentos disponíveis na cidade faz com que lugares como o Mirage e o Caesars Palace derrubem suas diárias de algumas centenas de dólares para algo entre US$ 59 e US$ 69.
Mais ao norte na Strip, a diária do Sahara chega a US$ 28.
Esses hotéis não são espeluncas. Muitos têm decoração espetacularmente kitsch, enormes piscinas, spas, shopping centers, coleções de animais raros e shows de som e luz (o promovido pelo Caesars simula a destruição de Atlântida).
Aposta
Eu adoro a variedade imprevisível dos quartos de hotel. Então apostei que poderia passar quatro noites em Las Vegas -com passagem aérea, hospedagem e refeições- gastando o mesmo que o turista médio despende em duas noites de jogo.
Comecei analisando os pacotes promovidos por companhias aéreas e pelas agências de viagem, que anunciam promoções irresistíveis para Las Vegas.
A agência Liberty Travel, por exemplo, anunciava um pacote que incluía bilhete de ida e volta a partir de Nova York, duas noites no Palace Station e vários cupons de descontos. O preço era US$ 255 por pessoa em apartamento duplo.
Rapidamente eu descobri que os pacotes baratos para Las Vegas duram apenas duas noites e exigem embarque em vôos noturnos.
Isso significa que, no primeiro dia, você chega a Las Vegas de madrugada. No terceiro dia, você deixa a cidade à noite, após ter saído do hotel ao meio-dia.
Decidi comprar, pela tarifa promocional de US$ 264, um bilhete de ida e volta da TWA, com vôos noturnos nos dois sentidos. Na noite marcada para a minha volta, decidi esperar pelo vôo vespertino e não paguei nada mais por isso.
Depois de comprar o bilhete, passei a monitorar as diárias dos hotéis, que flutuam dramaticamente dependendo da demanda.
Numa semana, entre o fim de agosto e começo de setembro, chequei o preço dos quartos mais baratos em nove hotéis.
No Treasure Island, por exemplo, os preços que ouvi pelo telefone começaram em US$ 179, passaram para US$ 199, recuaram para US$ 79 e finalmente chegaram a US$ 49, quando eu já estava no balcão do "check-in".
Compreensivelmente, poucos viajantes querem esperar até o último minuto para fazer suas reservas nos hotéis.
Mas a montanha-russa de preços é um fator a ser considerado na hora de montar um pacote para Las Vegas. Na minha próxima visita à cidade, vou checar a diária no Caesars Palace antes de bater na porta do Motel 6.

Tradução de Edson Franco

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