São Paulo, terça-feira, 4 de novembro de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Fraudadora se entrega na Costa Rica

ABNOR GONDIM
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A advogada Jorgina Maria de Freitas, acusada de aplicar fraudes de R$ 123 milhões na Previdência Social, entregou-se ontem em San José à polícia da Costa Rica, encerrando cinco anos de fugas.
Ela só será conduzida ao Brasil depois que a Justiça de Costa Rica apreciar o pedido de extradição da advogada, formulado pelo governo brasileiro em 1994. O caso será apreciado pelo juiz Gerardo Rojas.
O diretor da Polícia Federal, Vicente Chelotti, disse acreditar que ela deve ser extraditada em 72 horas. Ela receberá proteção total da PF para contar tudo o que sabe sobre a quadrilha que fraudou R$ 500 milhões do INSS (Instituto Nacional do Seguro Social).
Ao se entregar, Jorgina exigiu "garantias de vida" no Brasil, segundo Chelotti. Dois agentes da PF que estão há dois meses na Costa Rica irão acompanhá-la durante a viagem de regresso.
Jorgina deverá ficar na superintendência da PF em Brasília. Como tem curso superior, ela tem direito a prisão especial, como aconteceu com Paulo César Farias, ex-tesoureiro eleitoral do ex-presidente Fernando Collor (1990-92), quando foi preso em 93.
Recursos
O embaixador do Brasil na Costa Rica, João Carlos de Souza Gomes, está menos otimista do que a PF.
Segundo ele, Jorgina se apresentou à Justiça acompanhada dos advogados Rodolfo Piza e Jorge Granado Moreno, com a intenção de mover recursos para impedir a extradição imediata.
O embaixador disse acreditar que o processo deve tramitar em ritmo acelerado em razão da grande repercussão do caso, mas afirmou que a decisão não será imediata.
"Esse processo somente seria sumário se ela tivesse demonstrado interesse de ser extraditada para o Brasil, o que parece que não aconteceu", disse o embaixador.
Segundo ele, Jorgina afirmou que se entregou por não suportar mais o cerco das autoridades brasileiras e portorriquenhas.
"Ela está sob a jurisdição das leis da Costa Rica e não pode ser deportada sem a apreciação do pedido de extradição", afirmou o embaixador.
Souza Gomes afirmou que a advogada Jorgina Maria de Freitas só poderá chegar ao Brasil "em pouco dias" se os advogados dela não ingressarem com recursos contra o pedido de extradição feito pelo governo brasileiro à Justiça da Costa Rica.
O diplomata brasileiro afirmou que o Brasil solicitou ao governo da Costa Rica a detenção e extradição da advogada em 1994 e renovou o pedido em setembro passado. Os dois países mantêm um acordo de extradição. Jorgina Maria de Freitas foi condenada, à revelia, a 14 anos de prisão.
Condenação
A análise do pedido de extradição não era esperada por assessores do Ministério da Justiça que acompanham o caso. Eles aguardavam que o governo costarriquenho deportasse Jorgina, pois, segundo eles, já está claramente comprovada sua culpa.
Máfia
O interesse do Ministério da Previdência Social é saber quem são os funcionários ou autoridades que tenham participado da máfia do INSS, conforme ela disse à Rede Globo, na sexta-feira passada.
Durante a entrevista, Jorgina disse que 85% da verba desviada para o pagamento de indenizações milionárias ficou dentro do próprio INSS.
Na mesma entrevista, ela disse que se apresentaria à Justiça da Costa Rica se o o presidente do Supremo Tribunal Federal, Celso de Mello, garantisse a sua segurança e a de sua família.
A assessoria do ministro disse que nenhum dos 33 condenados no caso das fraudes contra o INSS sofreu alguma ameaça de morte. Entre os condenados estão dois procuradores do instituto, um dos quais já morreu, e o juiz Nestor do Nascimento, que está preso.

Texto Anterior: Fiéis retaliam jornal no Rio
Próximo Texto: Entenda o caso Jorgina
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.