São Paulo, terça-feira, 4 de novembro de 1997
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A história de Almir

JUCA KFOURI

Era inevitável.
A menção feita aqui, no domingo, sobre o fato de o Santos ter ganhado um título mundial com jogadores dopados despertou a indignação de uns e a curiosidade de outros.
Entre os indignados, o eterno curinga santista Lima, um jogador de grande talento e mobilidade, tanto que jogou praticamente em todas as posições dentro da lendária equipe santista. E que garantiu, via Jovem Pan, jamais ter se dopado na vida, algo que a própria longevidade de sua carreira atesta -quem usa estimulantes tem vida curta.
Entre os curiosos, torcedores que jamais ouviram falar da possibilidade de o fabuloso esquadrão branco ter recorrido a tal expediente.
Ressalvado que, assim como Lima, provavelmente outros craques daquela memorável batalha também não se doparam, vale lembrar que, à época, não se faziam exames antidopagem.
Foi em 1963, e o Santos havia perdido para o Milan, em Milão, por 4 a 2. Pior, perdera Pelé para o jogo, ou jogos, de volta no Maracanã.
A história, agora, fica por conta de Almir Albuquerque, o Pernambuquinho, relatada em seu livro "Eu e o futebol", publicado em 1973, pela Editora Abril, com prefácio de João Saldanha, num belo trabalho dos jornalistas Fausto Neto e Maurício Azedo.
"Naquele Santos e Milan de 14 de novembro de 1963, no Maracanã, entrei muito doido no campo. Antes de começar o jogo, Alfredinho, então assistente técnico de Lula, treinador do Santos, me chamou e falou claro, porque aquilo era normal, tão normal quanto a distribuição de camisas: - Quer tomar uma bola?
"Por que eu não ia querer? O bicho pela conquista do biCampeonato Mundial de clubes era de 2.000 cruzeiros: dava para comprar um Volkswagem zerinho."
Mais adiante: "Acabamos ganhando na raça, na catimba. Se houvesse mais tempo de jogo, uma prorrogação ou até mesmo um terceiro tempo de 45 minutos, nós ganharíamos do Milan. Alfredinho sabia disso: com a bolinha que ele nos tinha dado, o Santos tinha energia para continuar jogando até agora".
De fato, o Santos, que perdia por 2 a 0, virou no segundo tempo para 4 a 2 e ganhou a negra por 1 a 0, jogo que foi precedido pelo seguinte aviso do cartola Nicolau Moran a Almir: "Você pode fazer o que quiser dentro de campo, Almir. Você é rei lá dentro, faz o que achar melhor. O juiz não vai fazer nada".

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