São Paulo, terça-feira, 4 de novembro de 1997
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BLUES BRANCO

LUIZ ANTÔNIO RYFF
DA REPORTAGEM LOCAL

Para quem acredita que talento ou genialidade podem ser transmitidos geneticamente, os irmãos Vaughan são uma ducha de água fria.
Enquanto Stevie Ray Vaughan é um guitarrista brilhante -e provavelmente o mais influente bluesman surgido desde os anos 80-, seu irmão mais velho, Jimmie, é só um instrumentista esforçado.
"Live at Carnegie Hall" captura Stevie em sua fase ascendente, em 1984. Já era irretocável. Poucos guitarristas foram tão viscerais quanto ele. Nesse quesito, pode ser comparado a Jimi Hendrix, que aliás era um de seus ídolos.
O CD póstumo -Stevie morreu em um acidente aéreo em 1990- apresenta um repertório bem diferente do que seria imortalizado em "Live Alive" (86), disco ao vivo.
"Live at Carnegie Hall" não tem as versões alucinadas de "Superstition" (Stevie Wonder), "Mary Had a Little Lamb" (Buddy Guy) ou "Voodoo Chile (Slight Return)" (Jimi Hendrix).
Em compensação, conta com reforços ilustres como o do pianista Dr. John, de Jimmie e da metaleira do Roomful of Blues na única vez em que sua banda de apoio, a Double Trouble, foi expandida.
Esse acréscimo circunstancial só engrandece o trabalho de Stevie em músicas como "Pride And Joy", uma de suas melhores. Ou quando os metais dialogam com a guitarra em "Iced Over", do falecido Albert Collins.
No CD, uma excelente amostra de seu talento, Stevie oscila entre pegadas sensíveis, como em "Dirty Pool" ou "Lenny", e endiabradas, como em "Scuttle Buttin"' ou "Rude Mood".
A diferença entre os irmãos é grande. E "The Things That I Used To Do", em que os dois fazem um duelo, serve de exemplo.
O disco de Jimmie (ex-Fabulous Thunderbirds), "Strange Pleasure", apenas aprofunda essas diferenças. Ele chega aqui com algum atraso já que, lá fora, foi lançado em 94. As gravadoras devem ter razões que a própria razão desconhece.
A voz dos dois é bem parecida -principalmente em "(Everybody Got) Sweet Soul Vibe". As semelhanças praticamente acabam aí. Que ninguém espere virtuosismo ou solos inspirados, mas o disco tem ótimos momentos.
Como as dançantes "Boom-Bapa-Boom", que abre o disco, e "Hey-Yeah", com uma linha de baixo pegajosa -pegajosa no bom sentido, se houver algum.
Em geral, Jimmie faz um blues mais pop. Não deve ser fácil ser irmão de alguém talentoso...

Disco: Live at Carnegie Hall
Artista: Stevie Ray Vaughan and Double Trouble
Lançamento: Sony
Quanto: R$ 18, em média

Disco: Strange Pleasure
Artista: Jimmie Vaughan
Lançamento: Sony
Quanto: R$ 18, em média

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